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Ata da 1ª Reunião 29/02/2016

Abertura

  • Apresentação de participantes de 2015 e 2016
  • Descrição de propostas, objetivos e atividades da Sonora
  • Resumo dos acontecimentos de 2015

Tópicos abordados

  • Horário das reuniões: ficou decidido que as reuniões serão às segundas-feiras, das 17:30 às 19:30
  • A próxima reunião será dia 14/3. Dia 7/3 às 14 hs haverá uma apresentação daSonora na recepção de alunos da Pós-Graduação, onde serão entregues filipetas
  • A frequência das reuniões poderá ser semanal, alternando encontros com e sem convidados
  • Observou-se a necessidade de um calendário virtual para divulgação de eventos.
  • Foi sugerido o calendário Google
  • Foi sugerido criar uma aba no site da Sonora para a divulgação dos eventos colocados no calendário
  • Foi apontada a urgência de todos do grupo aprenderem a utilizar os equipamentos de transmissão das reuniões. O Prof. Pedro Paulo gentilmente se ofereceu para dar uma aula prática sobre o assunto
  • Da mesma forma, todos devem aprender a realizar postagens no site
  • Ficou em aberto a entrevista da pesquisadora e professora Silvana Scarinci, autora de biografia da compositora Barbara Strozzi, no dia 11/3. O encontro depende da possibilidade de fazer parte da aula de História da Música, no período da manhã
  • Ficou em aberto a seleção de texto para GE do próximo encontro, dia 14/3

Divulgação de eventos de fevereiro e início de março de 2016

  • Recital Contemporary Brazilian Music at Wesley Memorial, Oxford. A pianista Késia Decoté apresentou obras de Marisa Rezende, Valéria Bonafé e Silvia Berg, em 25 de Fevereiro.
  • IX Concurso de composicion electroacustica y acusmática – Fundacion Destellos. Envio de propostas até dia 15 de abril de 2016. Interessados devem solicitar formulário de inscrição pelo email info@fundestellos.org
  • Chamada de propostas para o FIME 2016 – até 27 de março
  • Colloque International Éliane Radigue – 23 e 24 de maio de 2016. O colóquio pretende realizar um panorama da obra da pioneira da música eletroacústica francesa, bem como estimular a pesquisa sobre compositoras do século XX e XXI. Propostas até 30 de março, para o email colloque.radigue@gmail.com
  • Projeto de Isabel Nogueira e Luciano Zanatta – Organização UFRGS, Medula,
  • Grupo de Pesquisa em Criação Sonora e Grupo de Pesquisa em Estudos de Gênero, Corpo e Música. O projeto de extensão consistirá em uma série de dez concertos de música eletrônica/eletroacústica ou similar, contemplando o maior número possível de manifestações musicais que tenham forte relação com meios eletrônicos de produção e difusão de música.Informações pelo endereço https://musicaeletronicaufrgs.wordpress.com/about/. Envio de projetos até 15 de maio
  • A revista Linda #11 voltou ao ar. Nesta edição Flora Holderbaum e Isabel Nogueira divulgam a Sonora e discutem a importância da pesquisa de gênero para as mulheres enquanto artistas, entre outros papéis sociais que desempenham. Disponível em http://linda.nmelindo.com/2016/02/conversa-sonora-entre-flora-holderbaum-e-isabel-nogueira/
  • Dissonantes#1 – No dia 25 de fevereiro o projeto Dissonantes iniciou as atividades de 2016 apresentando Julia Teles e Marcela Lucatelli no estúdiofitacrepeSP.
  • Seguem-se as oficinas “Corpo-presença-corpo” – situ-açõesde treinamento para o ator, com Ana Paula Lopez (dia 2/3 as 9 hs), e “Laboratório Corpo e Teatralidade”, com Kenia Dias e Ricardo Garcia (dia 2/3 as 19 hs).
  • O Projeto Vértice Brasil realiza encontro e festival de teatro contemporâneo feito por mulheres ligado ao Magdalena Project, rede internacional que busca a realização de parcerias e intercâmbios artísticos entre mulheres de todo o mundo. Informações no endereço www.verticebrasil.net
  • Lançamento do disco de Isabel Nogueira pela Plataforma Records. Informações http://plataformarecords.blogspot.com.br/2016/02/plataforma-records-168-isabel-nogueira.html
  • Lançamento do CD Mujeres, Música y Quijote, Coleção “Música y Cervantes” vol. 4, pelo Selo Columna Música. Realização Dra. Cecilia  Piñero. Reúne obras de compositoras como Matilde Salvador, Carmen Marina Gioconda,  Zulema de  la Cruz , Ana Lara e Beatriz Arzamendi. Disponível em http://musica.fnac.es/a1155500/De-la-dulce-mi-enemiga-Mujeres-cervantinas-Musica-y-Cine

Retomando os objetivos de 2015

  • Fazer apresentação da Sonora em inglês
  • Participar como grupo em congressos
  • Pensar num GT e apresentação de trabalhos no congresso ANPPOM 2016
  • Levantar pauta sobre inclusão e cuidados de filhos de participantes em eventos acadêmicos
  • Realizar encontros da série Vozes com membros da Sonora
  • Comprar provedor para site Sonora e utilizar o logo como imagem

Questões paralelas

  • Foi observada a necessidade de pesquisar estratégias de segurança para lidar com possíveis manifestações desagradáveis durante a transmissão das reuniões

 

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Operacional

Ata da Reunião de Encerramento 7/12/2015

Balanço do ano:

  • Tivemos ao todo 6 convidadas (Isabel Nogueira, Bárbara Biscaro, Tânia Neiva, Lea Tosoldi, Acácio Piedade, Roseane Yampolschi).
  • Houve uma progressiva ampliação de temas começando com um interesse pelo repertório de mulheres na música experimental/contemporânea, passando pela musicologia feminista e feminismo indígena.

Propostas imediatas para 2016:

  • Mudança de horário.
  • Encontrar uma maneira de definir a constituição do grupo visando colocar os nomes no site.
  • No início do ano definir o calendário de 2016. E discutir a regularidade do encontro (semanal ou quinzenal). Possivelmente alternar encontros informais entre os encontros quinzenais mais densos.
  • Retomar leituras e sessões de escuta. As sessões de escuta priorizarão a apresentação de trabalhos das participantes.
  • No grupo de estudos um participante deverá ser responsável  por apresentar o texto, trazer uma contextualização, exemplos, questões, fazer o post, etc.
  • Descentralização das ações: funções podem ser divididas entre os participantes com um rodízio de atividades. Sugestão de encontro técnico para toda(o)s aprendermos a fazer todas as atividades (montar transmissão, padronização dos
    posts, funcionamento do site, coordenação do google group, edição de vídeo para os registros, etc.)
  • Devemos participar de congressos de gênero. Talvez fazer uma reunião específica para mapear congressos de gênero em 2016-17. Fazer um artigo de apresentação do grupo pensando em eventos como a Anppom.
  • Participar da semana de calouros do cmu em 2016.

Quatro projetos grandes para o futuro:

  • Selo sonora. Buscar informações sobre como funcionam selos online.
  • Sarau, mostra, que vise mostrar trabalhos. Possibilidade de fazer no Fita Crepe, CCSP, ou Biblioteca Mário de Andrade.
  • Evento, festival, fórum, ou seminário. Possibilidade de fazer no CPF. Sugestão: pensar numa proposta mais inclusiva, propor mesas ou comunicações para facilitar a vinda de pessoas off-sp. Indicativo: fórum em junho 2016.
  • Repositório, precisamos de um estudo do que é necessário em termos técnicos e da ajuda de pessoas da programação. Necessitamos de um novo espaço de hospedagem. Falou-se na possibilidade de se conseguir verba em algum edital
    que contemple projetos deste tipo.

Financiamento: emergencial via vakinha, no médio prazo pensar em patrocínios, ou edital universal CNPQ.

Por uma Sonora mais inclusiva:

  • Pensar em um formato menos excludente e menos meritocrático para a escolha de convidadas nas nossas séries.
  • Pensar em estratégias para incluir negros.
  • Fazer contatos com outros grupos e coletivos feministas e raciais da usp.

Tânia relatou o início de atividades do grupo de João Pessoa e manifestou a vontade de participar das reuniões como grupo via hangout.

Discussão: sonora é uma rede ou um grupo? Tentar pensar a Sonora como uma rede com diversos núcleos em diferentes cidades.

Indicativo da primeira reunião de 2016: dia 15 ou 22 de fevereiro às 17h.

Tarefas de férias:

  • Fazer apresentação padrão do grupo.
  • Completar site.
  • Pensar sugestões de nomes de convidadas para as séries e de leituras para o grupo de estudos para levar no início de 2016. Criar um espaço online para receber propostas para 2016 online. Sugestão de Eliana: Nilcéia Baroncelli, Leonardo Tramontina.

 

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Vozes

Vozes – Roseane Yampolschi

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Fotografia da compositora Roseane Yampolschi para o site Artes Visuais e Música da UFPR.

 

A segunda edição da série Vozes e contou com a participação de Roseane Yampolschi, compositora, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Composição pela UFRJ, Doutora em Música/Composição pela University of Illinois e com Pós-Doutorado pelo King’s College, Roseane atua nas áreas de Composição e Projetos Criativos em Arte Sonora da UFPR. Suas atividades em composição abrangem áreas diversas, conferindo-lhe prêmios no Brasil e no exterior. Tal diversidade foi incrementada pela inclusão, em sua formação, de uma Pós-Graduação em Filosofia, na UFMG.

Roseane dá grande importância à interdisciplinaridade na formação do músico. Além da formação como instrutora de Tai Chi Chuan, a compositora trabalhou também por 5 anos em terapia ocupacional, atividade que teve impacto em sua futura atividade composicional. A tomada de posse da música como atividade primeira teria sido, segundo a compositora, a conquista de um prêmio em composição oferecido pela Bienal de Música Brasileira Contemporânea. A partir daí reconheceu-se como criadora da área de Música e foi beber em outras fontes, dentro e fora do Brasil.

A linguagem musical de Roseane tem como preocupação os elementos timbre e textura, bem como a atuação do corpo e do movimento na criação. A Filosofia ocupa lugar de destaque, à medida que a compositora reflete sobre o diálogo em sua produção. Pensa na relação som/movimento, e sua atuação sobre o corpo. Entre suas obras estão Diálogos I e Diálogos II, Candeia e Zikhronot, esta última premiada na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea em 2015.

 

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Convite para a exposição da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

A questão de gênero foi percebida mais conscientemente pela autora durante seu Doutorado nos EUA. A mesma diz ter notado uma sensibilidade diferente da de seus colegas do sexo masculino, principalmente porque ela compunha a partir da vivência do tempo em seu corpo, que era um corpo feminino.

Roseane reconhece que os feminismos tem suas particularidades de artista para artista, mas insiste que, tendo o corpo grande responsabilidade no ato da composição, ele marca definitivamente a obra criada por mulheres. Em sua visão, esta é a grande contribuição da mulher compositora para o âmbito da composição musical.

 

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Fotografia da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

Entre exemplos de seu trabalho composicional, Roseane apresentou Prosa e Verso, estreada em 2012, e Nem tudo é provisório, instalação sonora de 2010. Sobre esta última a autora disse no catálogo da exposição/instalação: “da natureza da arte interdisciplinar, diz-se que ela nasce e permanece híbrida. é o limite entre as suas bordas que atualiza a inter-relação entre os seus universos artísticos materiais e prevalecentes; é o limite entre as suas estórias que move as expectativas criadas pela memória, imaginação e sentidos. da natureza interdisciplinar, diz-se que ela nasce híbrida, conjugada e imperfeita como uma estrela.”

 

Leituras sugeridas

YAMPOLSCHI, Roseane. O estetismo na música contemporânea. In: Revista Aboré, vol.2, nº.2, 2006.

YAMPOLSCHI, Roseane. O corpo “fala”?: As sensibilidades do corpo na criação musical. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.2, 2014, p.66-81.

Música e métier. Colóquio com Roseane Yampolschi, Antônio Carlos Borges Cunha e Harry Crowl, realizado durante o III Encontro Nacional de Compositores Universitários Curitiba, UFPR, 2005.

 

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Vozes

Vozes – Roseane Yampolschi (Divulgação)

Vozes-RoseaneYampolschi-Flyer

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 23/11, às 14h00. Nesse encontro, receberemos a compositora Roseane Yampolschi para falar do seu trabalho artístico. Excepcionalmente o encontro acontecerá na Sala 12 do CMU-ECA-USP.

Roseane Yampolschi é professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná – UFPR nas áreas de Composição e Projetos Criativos em Arte Sonora. Doutora em Música/Composição (University of Illinois, 1997) e Pós-Doutorada pelo King’s College (2014), suas atividades em composição abrangem áreas diversas, com atuação e prêmios no Brasil e no exterior.

 

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Visões

Visões – “Resistência e feminismos indígenas”, com Léa Tosold (Divulgação)

Visoes-LeaTosold-Flyer

Sonora convida para mais uma edição da série Visões na próxima segunda-feira, 16/11, às 10h30, na Sala do Nusom. Nesse encontro, receberemos a pesquisadora Léa Tosold com o tema “Resistência e feminismos indígenas”.

A proposta é estabelecer um diálogo com os feminismos indígenas de maneira a permitir o questionamento de dualismos e formas estanques de ação política, bem como ampliar uma perspectiva crítica sobre o cotidiano enquanto político. A partir de exemplos da atuação de movimentos feministas em processos de resistência, será apontada a importância da abertura e do cultivo de esferas de compartilhamento em coletivo.

Léa Tosold é pesquisadora do Departamento de Ciência Política (DCP-USP), integrante do Gepô (Grupo de Estudos de Gênero e Política do DCP-USP) e do Comitê Paulista de Solidariedade à Luta pelo Tapajós, coletivo autônomo que busca fortalecer o processo de resistência dos povos indígenas, ribeirinhos e tradicionais ao projeto de construção de um complexo de hidrelétricas na região. Suas áreas de atuação são: teoria política e feminismos; interseccionalidades; políticas de diferença; epistemologias feministas; capitalismo, feminismo, territorialidades e violência; movimentos indígenas latino-americanos.

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Grupo de Estudos

GE (leitura/discussão) – Música indígena e teoria de gênero: Maria Ignez Cruz Mello

Esse encontro foi dedicado a um primeiro contato com o trabalho de pesquisa da compositora e musicóloga brasileira Maria Ignez Cruz Mello. De forma introdutória, fizemos a leitura de dois textos: um de Susan Fonseca, intitulado Etnografía y creación contemporánea: una aproximación desde el legado de Maria Ignez Cruz Mello, no qual a autora apresenta a pesquisa da Maria Ignez de modo panorâmico; e outro da própria Maria Ignez, intitulado Relações de gênero e musicologia: reflexões para uma análise do contexto brasileiro. Através dessas leituras pudemos compreender como se articulam os dois eixos principais do trabalho da Maria Ignez: a teoria de gênero e a música indígena.

Maria Ignez realizou ampla pesquisa (teórica e de campo) sobre o Ritual Iamurikuma, o maior ritual feminino do Alto Xingu, MT. Essa pesquisa resultou em seu trabalho de doutorado, intitulado Iamurikuma: Música, Mito e Ritual entre os Wauja do Alto Xingu (UDESC, 2005). No resumo de sua tese, ela diz:

“Esta tese é uma etnografia do ritual de iamurikuma entre os índios Wauja, do Alto Xingu. Com base na mitologia e no discurso nativo, o universo em torno deste ritual é analisado especialmente em sua dimensão musical. O ritual de iamurikuma, realizado pelas mulheres, é entendido como um dos lados de um complexo músico-ritual que envolve humanos e ‘espíritos’ apapaatai, tendo como sua outra face o mundo das flautas kawoká, que são tocadas pelos homens e não podem ser vistas pelas mulheres. A música, através de sua formalização e do jogo em torno dos sentidos e das proporções, é considerada o elemento central do ritual, constituindo a forma ideal de expressão dos afetos.” (MELLO, 2005, p. 4)

niversidade Federal de Santa Catarina

Desenho do ritual de Iamurikuma feito por Ajoukuma Waurá. Figura retirada da capa da tese de doutorado de Maria Ignez Cruz Mello.

A pesquisa de doutorado de Maria Ignez é bastante extensa e inclui: um relatório da sua pesquisa de campo realizada com os Wauja; um estudo sobre a sociedade xinguana, abordando temas como sistema sócio-cultural, língua, ritos, cosmologia e xamanismo; um estudo comparado entre os rituais iamurikuma e kawoká; uma descrição detalhada do ritual de iamurikuma que ela pôde observar presencialmente em 2001, incluindo algumas transcrições musicais; e algumas análises musicais das canções.

Em seu trabalho, Maria Ignez observou a forte marcação dos papéis de gênero entre os Wauja, que inclui esta a radical separação entre os rituais kawoká e iamurikuma. Enquanto iamurikuma seria um ritual exclusivamente feminino e estritamente vocal, o kawoká seria um ritual exclusivamente masculino e concentrado na música instrumental através do uso das flautas (instrumentos que não podem ser vistos pelas mulheres, sob risco de sofrerem estupro coletivo como punição). Porém, a despeito dessa aparente separação radical entre os rituais, Maria Ignez conclui a partir da análise dos dois repertórios que a música iamurikuma é de fato a música kawoká e que tal oposição não se sustenta exatamente no conteúdo musical. A partir desse eixo de leitura, ela desenvolverá sua hipótese de que esses rituais são complementares e constituem um complexo mítico-musical único.

Nosso encontro também teve a participação do compositor e musicólogo Acácio Piedade (UDESC), que acompanhou de perto o trabalho de pesquisa da Maria Ignez. Ele nos ajudou a compreender melhor algumas especificidades da sociedade Wauja. Ele nos contou, por exemplo, como o sexo é um assunto corriqueiro e tratado sem tabu entre os Wauja. Perceber esta e muitas outras diferenças entre os Wauja e a cultura branca ocidental nos conduziu à discussão sobre a impossibilidade de ler as questões de gênero entre os Wauja exclusivamente a partir da nossas experiências e perspectivas. O debate contribui muito para a importância de se pensar numa pluralidade inerente à noção de feminismo.

Para complementar nossas leituras, assistimos também o filme As Hiper Mulheres (2011) que mostra justamente todo o processo de preparação e realização do ritual Iamurikuma no Alto Xingu.

 

Maria Ignez Cruz Mello (1962–2008)

Maria Ignez

“Começou seus estudos de piano aos 3 anos de idade, e com esta idade começou a compor pequenas peças. Em 1969 ingressou no conservatório dramático musical de sp, onde completou o curso de piano como bolsista durante 10 anos, se formando em 1979. Foi premiada com no concurso de Composição “Troféu Bach”, promovido pelo Centro de Pesquisas Físicas, Biológicas e Musicais de São Paulo, durante quatro anos consecutivos:1975, 1976, 1977 e 1978. Trabalhou um tempo com demonstradora de piano, ainda criança, na loja Mappin em SP, e mais tarde como regente do coral da Justiça de SP em 1980-81. Participou do Festival de Inverno de Campos de Jordão em 1981, curso de regência coral com Henrique Gregori. Em 1981 ingressou no curso de composição da UNICAMP, tendo estudado com Almeida Prado e Damiano Cozzella e se formado em 1986. Fez cursos de composição eletroacústica com Conrado Silva em1986. Viveu na Alemanha e na Austria entre 1987 e 1989, tocando em diversos grupos, estudando música e alemão. De volta ao Brasil 1990, em SP, cantou no coral Psychophármacon, trabalhou como produtora cultural e abriu uma escola de música, Casa Dois. Mudou-se para Floripa em 1994, dois anos depois do nascimento de sua filha e de Acácio, Júlia. Depois do mestrado e doutorado em Antropologia na UFSC, sob orientação de Rafael Bastos,ingressou como profa. da UDESC em 2005. Em 2007 foi curadora da mostra de arte indígena NAAKAI: a trama ritual na vida wauja, Museu de Arte da UFPR.” (Biografia escrita por Acácio Piedade, disponível em: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.498650460194838.1073741828.498644663528751&type=1)

 

 

Leituras

 

Filme

“As Hiper Mulheres”. Dir. Takumã Kuikuro, Leonardo Sette e Carlos Fausto | 80 min. 2011. PE

https://www.youtube.com/watch?v=wDpVU0hFh0g

 

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Vozes

Vozes – Barbara Biscaro

Bárbara Biscaro em "A menina Boba"
Barbara Biscaro em “A menina Boba”

Nesse encontro, inauguramos a série vozes com a presença da atriz, cantora, performer-criadora Barbara Biscaro. A Barbara, em passagem por São Paulo nos visitou e contou um pouco sobre seus trabalhos e projetos. Ela é de Florianópolis e trabalha na confluência do teatro com a música, especialmente no uso da palavra cantada na cena e nas dramaturgias para o teatro influenciadas pela linguagem musical. Ela fez seu doutorado em teatro na UDESC, com uma tese a respeito da vocalidade e da escuta. É curadora e organizadora do festival Vértice Brasil, ligado a uma rede internacional de mulheres de teatro chamada Magdalena Project. O Vértice existe há dez anos e vai realizar seu quinto festival no ano que vem.

A Barbara contou um pouco sobre as motivações para a criação de um encontro internacional de teatro feito por mulheres, o Vértice Brasil. A ideia foi conversarmos sobre estratégias de sobrevivência de grupos como a Sonora a partir da experiência dela em projetos semelhantes.  Ela falou sobre o formato dos eventos que organiza, sobre o esforço contínuo de horizontalidade nos debates em torno das agendas feministas, sobre a necessidade do convívio presencial com mulheres de outras culturas etc. Além disso, a Barbara nos apresentou  alguns de seus trabalhos artísticos mais recentes e de como o feminismo influencia sua perspectiva criativa, já que age criticamente no olhar do outro sobre a mulher, a atriz, a cantora.

O projeto Vértice Brasil faz parte da rede internacional Magdalena Project. Essa rede surgiu em 1986 no país de Gales, quando várias atrizes em um festival na Itália se deram conta de pouca participação de mulheres nos papéis de direção. Reflete sobre os papéis de atuação da mulher nos espetáculos, sobre o lugar da atriz e da cantora ser reservado à mulher como lugar do fetiche: a diva, a estrela, o objeto, mas nunca criadora do próprio discurso. Essas atrizes quiseram criar um festival organizado por mulheres e que foi se espalhando e assumindo um papel importante nas artes cênicas e no ativismo feminista. Hoje o Magdalena Project existe em mais de 24 países.

“O Projeto Magdalena tem o compromisso de fomentar a consciência da contribuição da mulher ao teatro e apoiar a experimentação e a pesquisa, oferecendo oportunidades concretas para o maior número possível de mulheres. Ele conta com uma estrutura singular que lhe permite funcionar internacionalmente e de ser adotado e ampliado por mulheres em todo o planeta.” (site Vértice Brasil)

Na segunda parte do encontro, a Bárbara falou sobre alguns dos seus trabalhos artísticos, como o espetáculo de 2010 – A menina boba. Esse trabalho toca no empoderamento discursivo das mulheres do início do século XX, especialmente da poetisa Oneyda Alvarenga.

“O espetáculo mistura as linguagens da música e do teatro para tecer uma dramaturgia baseada na obra da poetisa Oneyda Alvarenga e no ciclo de canções homônimo “A Menina Boba”, do compositor Cláudio Santoro. Explorando a voz cantada e falada em cena, o movimento abstrato e elementos da biografia e obra poética de Oneyda, a atriz-cantora tece a biografia da poetisa, misturando elementos reais e fictícios. As canções transitam desde o universo dodecafônico criado por Santoro até as modinhas imperiais brasileiras, criando um universo sonoro da cena em constante diálogo com o formato teatral da encenação.” (sinopse retirada do site de Barbara Biscaro)

 

Links recomendados

www.barbarabiscaro.blogspot.com.br

www.facebook.com/espetaculorecita

www.verticebrasil.net

www.themagdalenaproject.org/pt-br

 

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Visões

Visões – “Musicologia Feminista: Susan McClary e Suzanne Cusick”, com Tânia Neiva

Neste encontro eu fiz uma introdução à chamada musicologia feminista abordando o contexto acadêmico de surgimento da área, as principais visões e metodologias adotadas pela musicóloga feminista Susan McClary em seu livro Feminine Endings: music, gender and sexuality (lançado em 1991) e a crítica realizada à abordagem de McClary pela musicóloga feminista Suzanne Cusick. A fala foi baseada em uma comunicação realizada por mim, no mesmo ano (2015), na ANPPOM, intitulada: A musicologia feminista de Susan McClary e a crítica de Suzanne Cusick.

Eu comecei a me interessar pela questão da mulher na música durante minha segunda pesquisa de Iniciação Científica, realizada na Unicamp sob orientação da compositora Profa. Dra. Denise Garcia. Na época (2002-2003) analisei duas peças para piano solo da compositora Eunice Katunda. Durante a pesquisa percebi algumas lacunas na história da compositora e dificuldade em encontrar bibliografia – sobre Eunice Katunda, tinha pouca coisa escrita mas havia sido recém lançado o livro biográfico escrito pelo pesquisador Carlos Kater. Percebi também como a compositora era desconhecida mesmo do público de músicos e estudantes de música. Comecei a notar a quase inexistência de alunas de composição em cursos universitários de música no Brasil. Isso me levou a pesquisar, no mestrado (2004-2006), a inserção das mulheres no campo da composição musical erudita no país. Realizei cinco estudos de caso: Jocy de Oliveira, Maria Helena Rosas Fernandes, Vânia Dantas Leite, Marisa Resende e Denise Garcia, sob orientação da Profa. Dra. Lenita W. Nogueira. O que havia percebido intuitivamente, pela observação, pude confirmar através de estatísticas, relatos, trajetórias e, muitas vezes, pela ausência de dados e documentos.

Depois do mestrado fiquei um tempo afastada da academia me concentrando em tocar cello e dar aulas. Mudei de cidade com meu companheiro, Valério Fiel da Costa e tivemos um lindo filho, agora com três anos. Em 2014 fui chamada novamente para a academia. Vinha trabalhando desde 2013 com um grupo de performance e tenho me envolvido cada vez mais com a música experimental. Novamente as questões sobre as mulheres no campo da música voltaram! Dessa vez, no campo da música experimental: Quem são elas? Por quê é tão difícil, num primeiro momento, lembrar de nomes de mulheres fazendo música experimental? Atualmente estou realizando minha pesquisa de doutorado na UFPB sob orientação do Prof. Dr. Didier Guigue e co-orientação da Profa. Dra. Adriana Fernandes. E o tema da pesquisa surgiu como consequência da minha trajetória de pesquisadora e de artista, agora, com muito mais consciência das minhas escolhas ideológicas, políticas e acadêmicas, assumo com orgulho o termo feminista. Acredito que ele traz em si uma força para mudança e transformação para uma sociedade mais justa, representativa e igualitária!

Em 2014 iniciou-se uma discussão no facebook proposta por Lilian Campesato que deu origem ao nosso querido grupo Sonora! Aqui em João Pessoa iniciamos um grupo de estudos presencial sobre música e gênero! A Sonora e o nosso grupo de estudos daqui, têm se configurado como espaços de reflexão, discussão e ação de grande importância para mim!

Obrigada por toda a riqueza e variedade de pessoas e questões que aparecem na Sonora e pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha pesquisa e da minha trajetória!

 

Referências

 

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Grupo de Estudos

GE (leitura) – Susan McClary: Feminine Endings

Neste encontro fizemos nossa primeira discussão a partir da leitura de um texto. A proposta veio do reconhecimento da necessidade de tomarmos um primeiro contato com a musicologia feminista, para isso fomos buscar Susan McClary, uma das musicólogas frequentemente creditada pela abertura de espaço para a discussão de gênero dentro da musicologia.

Susan McClary (n. 1946) começou sua carreira na década de 1970 lecionando na Universidade de Minnesota (1977-1991), posteriormente na McGill University (1991-1994), na Universidade da Califórnia, Los Angeles (1995-2011) e na Case Western Reserve University (2011-). McClary se notabilizou na década de 1980 publicando artigos que defendem um estudo da música que valoriza o contexto da prática musical e chamando atenção para questões tradicionalmente ignoradas no estudo da música como corpo, emoções e gênero, além dos aspectos socioculturais que influenciam ou se manifestam nestas práticas. Alguns destes artigos estão reunidos no livro que escolhemos discutir – Feminine Endings: Music, Gender, and Sexuality – publicado pela primeira vez em 1991. Este livro é amplamente considerado o trabalho fundador da musicologia feminista, daí sua relevância para nosso grupo.

 

Entrevista com Susan McClary

 

Ao favorecer a valorização do contexto na análise de peças musicais McClary se coloca em oposição ao estudo da música que se funda na ideia de autonomia da obra de arte, corrente que dominava o campo da musicologia e da teoria musical até então. Por este aspecto, McClary se aproxima de um grupo de musicólogos, a maioria anglófonos, que pratica o que passou a ser chamado de Nova Musicologia[1], um grupo bastante heterogêneo e informal, que em alguns casos nem se identificam com a alcunha, mas que em geral têm em comum esta preocupação com a contextualização da obra musical e uma crítica forte à autonomia e à leitura formalista da música.

Para este encontro de nosso grupo de estudo combinamos de ler o prefácio (Feminine Endings in retrospect), escrito para a reedição em 2002, que traz uma avaliação do efeito que o livro teve e das mudanças ocorridas no campo da musicologia desde então e o capítulo 6 (This is not a story my peaple tell) que analisa duas canções de Laurie Anderson: “O Superman” e “Langue d’amour”.

 

Canções de Laurie Anderson discutidas no texto:

https://www.youtube.com/watch?v=QH2x5pARGdE

https://www.youtube.com/watch?v=Ae9fZz8Poks

 

Principais livros de Susan McClary:

Principais artigos de Susan McClary:

[1] Outros musicólogos que podemos considerar parte deste movimento nas décadas de 1980 e 90 são Joseph Kerman, Kevin Korsyn, Daniel Chua, Suzanne Cuzick, Judy Lochhead, Ruth Solie, Rose Subotnik, Philip Brett, Elizabeth Wood, entre outros.

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Grupo de Estudos

GE (sessão de escuta) – Beatriz Ferreyra, Michèle Bokanowski e Eliane Radigue

A terceira sessão de escuta do grupo foi voltada para três compositoras que em algum momento de sua carreia estiveram ligadas ao GRM (Groupe de Recherche Musicales) em Paris: Beatriz Ferreyra, Michèle Bokanowski e Eliane Radigue.

 

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Beatriz Ferreyra

 

Beatriz Ferreyra é uma compositora argentina, nascida em 1937, que imigrou para Paris na década de 60. Lá obteve formação de compositora, seguindo um percurso comum a compositores da época, tendo estudado com Nadia Boulanger e Edgardo Canton, e frequentado o curso de verão de Darmstadt em 1967, ano em que Gyorgy Ligeti e Earle Brown eram os palestrantes. Ferreyra tem um perfil de pesquisadora, trabalhou no GRM entre 1963 e 1970, tendo colaborado na criação dos exemplos para o Solfège de l’objet sonore (discos que acampanham o Traité des objets musicaux de Pierre Schaeffer), assim como em outras pesquisas coordenadas por Guy Reibel que foram incorporadas ao Traité. Em 1970 Beatriz Ferreyra trabalhou com Bernard Baschet em sua pesquisa para construção de esculturas sonoras (Structures Sonores), e em 1976 foi para Dartmouth onde colaborou com Jon Appleton no desenvolvimento do Synclavier, um misto de sintetizador e sampler digital.

Beatriz Ferreyra compõe música eletroacústica desde 1965, tendo um vasto catálogo e ao menos 5 discos lançados comercialmente. Para esta sessão de escuta escolhi duas peças eletroacústicas: Echos de 1979, onde a compositora utiliza quatro gravações de canções latino-americanas (duas argentinas e duas brasileiras) a capela, interpretadas por Mercedes Cornu como material; e The UFO Forest de 1985 que, ao menos para mim, soa como uma peça de programa, com sua profusão de materiais e gestos na construção de um arco dramático.

 

 

Desde 2011, Beatriz Ferreyra atua em um duo de improvisação eletroacústica com a compositora francesa Christine Groult, tendo a particularidade de se apresentar tocando toca-fitas ao vivo.

 

 

Links:

Discografia:

  • 1998-Petit Poucet Magazine [Le Chant Du Monde]: Cando del Loco
  • 2012-Beatriz Ferreyra [INA-GRM]
  • 2013-La Rivière des Oiseaux [Motus-Acousma]
  • 2014-Christine Groult & Beatriz Ferreyra – Nahash [ds&e]
  • 2015-GRM Works [Recollection GRM]

 

bokanowski

Michèle Bokanowski

 

Michèle Bokanowski é uma compositora francesa, nascida em 1943. Na década de 60 estudou no conservatório de Paris. Paralelamente estudou composição com Michel Puig (discípulo de René Leibowitz), e música eletrônica com Eliane Radigue. Entre 1970-72 fez o curso e estagiou no GRM. De 1972 em diante trabalhou principalmente com trilhas pra cinema – cultivando uma longa parceria com seu companheiro, o cineasta Patrick Bokanowski –, além de trilhas para dança e teatro, e também música eletroacústica de concerto. Sua música se caracteriza pela repetição com pequenas variações, pelos silêncios e pela economia de material. Para a sessão selecionei o primeiro filme curta metragem para o qual fez trilha, La femme qui se poudre (1972):

 

https://www.youtube.com/watch?v=fk9nQG1J7Xs

 

E uma peça de concerto, o primeiro movimento da peça Cirque (1994), intitulado Allegro. Em Cirque, Bokanowski trabalha com sons característicos do circo, os sons são montados de forma que se mantenham facilmente reconhecíveis e são repetidos diversas vezes, formando loops, enquanto mais camadas vão sendo adicionadas. Michèle Bokanowski parece buscar o equilíbrio exato entre uma escuta “dramática” dos sons e uma escuta dos “sons pelos sons”, questão cara à música concreta, enquanto testa a velha ideia de que um som repetido diversas vezes perde sua significação.

 

https://www.youtube.com/watch?v=PSTITMjxDm8

 

Links:

Discografia:

 

Outros de seus filmes disponíveis na internet:

 

ragidue

Eliane Radigue

 

Eliane Radigue, compositora francesa nascida em 1932, na década de 50 trabalhou no GRMC – instituição que deu origem ao GRM – como assistente de Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Na década de 60 se casou com o artista plástico Arman, teve filhos e se afastou da música. Em 67 se divorcia, retorna a Paris e volta a ser assistente de Henry em seu estúdio particular, onde faz suas primeiras peças usando feedback, loops e “erosão eletrônica”[1]. Sua música deste período se caracteriza pelo uso de sons normalmente considerados erros, sons gerados por “mal uso” das máquinas como a realimentação (feedback), corrosão da mídia de gravação, excesso de reverberação, etc. Em 1970 mudou-se para Nova York para passar um tempo trabalhando na NYU pois havia desenvolvido um interesse por sintetizadores e desejava aprender a usar o Buchla 100 disponível na universidade. Pouco depois decide que a composição com sintetizadores é de fato o caminho que quer seguir, então resolve comprar um ARP2500 para poder trabalhar em seu estúdio particular. Neste período Radigue se dedica a compor peças longas e contínuas, com transformações bastante lentas, propondo uma experiência de temporalidade bastante particular. A partir de 2004, depois de 34 anos utilizando o ARP2500 como instrumento de composição, Radigue abandona o sintetizador e passa a fazer parcerias com intérpretes, usando tanto instrumentos acústicos quanto eletrônicos, como em Before the Libretto feito em parceria com o trio feminino de laptops The Lappetites, e Elemental II em parceria com o baixista Kasper T. Toeplitz acompanhado de processamento eletrônico em tempo real. A maneira com que as parcerias de Radigue são conduzidas é bastante peculiar, a compositora não escreve nenhum tipo de partitura, a obra é desenvolvida em conjunto com o intérprete ao longo de encontros/conversas/ensaios, após a peça estar pronta, ela passa a ser daquele intérprete específico, não há a intenção de criar uma partitura para que outros intérpretes possam tocá-la.

Para esta sessão de escuta optei por peças menos conhecidas de Radigue, selecionei duas peças do início de sua carreira, pré-sintetizador, ambas criadas para ambientes fora da sala de concerto, e um excerto de uma peça recente para arpa. A primeira se chama Σ = a = b = a + b, composta em 1969, é uma peça que utiliza como material sons gerados por feedback, o resultado é gravado em um disco de 7 polegadas (45rpm), utilizando ambos os lados. A peça não é uma obra de concerto eletroacústico tradicional, ela deve ser executada em um ou mais toca-discos, sendo que os discos podem ser reproduzidos em quatro velocidades diferentes à escolha do intérprete/ouvinte. O título da peça pode ser considerado uma partitura desta execução, Σ = a = b = a + b, ou seja, a peça pode ser apenas o lado A, apenas o lado B, ou uma soma dos dois através de sobreposição do som de ao menos dois toca-discos.

 

Lado A de Σ = a = b = a + b

 

A outra peça deste período inicial da carreira de Radigue é Maquette, parte da obra Opus 17 de 1970, sua primeira obra com duração fixa. Opus 17 foi composta para um evento chamado Fête en blanc organizado por um grupo de artistas plásticos[2] no Centro de Artes da Chateau de Verderonne (à 70km de Paris) em junho de 1970. O evento foi uma espécie de ritual coletivo onde todos os presentes vestiam mantos brancos desenhados por Paco Rabanne. O ritual envolveu performances, trocas de experiências, uma procissão, e oferendas, culminando em um jantar com apenas comidas brancas servido sob um enorme domo branco desenhado por H. W. Müller.

 

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Foto do evento Fête en blanc (1970): fonte

 

O material de Maquette foi todo criado com a técnica de erosão eletrônica aplicada a um trecho da ópera Parsifal de Wagner. Opus 17 é o último trabalho de Radigue que utiliza técnicas de feedback e erosão eletrônica, e serve de ponte entre as peças de início de carreira e a fase eletrônica de Radigue, pois o interesse por variações quase imperceptíveis já é bastante evidente.

 

https://www.youtube.com/watch?v=1pOqcSoTikQ

Maquette (1970)

 

Por fim mostrei um excerto de uma peça instrumental de Radigue, Occam I para harpa (2011), é interessante notar como o interesse por sons contínuos e uma temporalidade estendida se transporta de uma meio para outro. Esta peça não foi lançada em gravação comercial, no entanto é possível ouvir alguns trechos no youtube.

 

 

Links:

Discografia:

 

[1] “Erosão eletrônica” é o nome dado pela compositora para a técnica que utiliza a sucessiva aplicação de reverberação, em uma sala de eco ou similar, para transformar o som tornando-o irreconhecível. Uma peça de Radigue que pode servir de demonstração didática do processo é o Étude, movimento de Opus 17, composta em 1969, que parte de uma gravação do Prelúdio n. 23 op. 28 de Chopin. A peça pode ser ouvida aqui: link

[2] Os artistas organizadores são: Antoni Miralda, Joan Rabascall, Dorothée Selz, Jaume Xifra. Os websites pessoais dos artistas contem mais informações sobre o evento.