Neste encontro eu fiz uma introdução à chamada musicologia feminista abordando o contexto acadêmico de surgimento da área, as principais visões e metodologias adotadas pela musicóloga feminista Susan McClary em seu livro Feminine Endings: music, gender and sexuality (lançado em 1991) e a crítica realizada à abordagem de McClary pela musicóloga feminista Suzanne Cusick. A fala foi baseada em uma comunicação realizada por mim, no mesmo ano (2015), na ANPPOM, intitulada: A musicologia feminista de Susan McClary e a crítica de Suzanne Cusick.
Eu comecei a me interessar pela questão da mulher na música durante minha segunda pesquisa de Iniciação Científica, realizada na Unicamp sob orientação da compositora Profa. Dra. Denise Garcia. Na época (2002-2003) analisei duas peças para piano solo da compositora Eunice Katunda. Durante a pesquisa percebi algumas lacunas na história da compositora e dificuldade em encontrar bibliografia – sobre Eunice Katunda, tinha pouca coisa escrita mas havia sido recém lançado o livro biográfico escrito pelo pesquisador Carlos Kater. Percebi também como a compositora era desconhecida mesmo do público de músicos e estudantes de música. Comecei a notar a quase inexistência de alunas de composição em cursos universitários de música no Brasil. Isso me levou a pesquisar, no mestrado (2004-2006), a inserção das mulheres no campo da composição musical erudita no país. Realizei cinco estudos de caso: Jocy de Oliveira, Maria Helena Rosas Fernandes, Vânia Dantas Leite, Marisa Resende e Denise Garcia, sob orientação da Profa. Dra. Lenita W. Nogueira. O que havia percebido intuitivamente, pela observação, pude confirmar através de estatísticas, relatos, trajetórias e, muitas vezes, pela ausência de dados e documentos.
Depois do mestrado fiquei um tempo afastada da academia me concentrando em tocar cello e dar aulas. Mudei de cidade com meu companheiro, Valério Fiel da Costa e tivemos um lindo filho, agora com três anos. Em 2014 fui chamada novamente para a academia. Vinha trabalhando desde 2013 com um grupo de performance e tenho me envolvido cada vez mais com a música experimental. Novamente as questões sobre as mulheres no campo da música voltaram! Dessa vez, no campo da música experimental: Quem são elas? Por quê é tão difícil, num primeiro momento, lembrar de nomes de mulheres fazendo música experimental? Atualmente estou realizando minha pesquisa de doutorado na UFPB sob orientação do Prof. Dr. Didier Guigue e co-orientação da Profa. Dra. Adriana Fernandes. E o tema da pesquisa surgiu como consequência da minha trajetória de pesquisadora e de artista, agora, com muito mais consciência das minhas escolhas ideológicas, políticas e acadêmicas, assumo com orgulho o termo feminista. Acredito que ele traz em si uma força para mudança e transformação para uma sociedade mais justa, representativa e igualitária!
Em 2014 iniciou-se uma discussão no facebook proposta por Lilian Campesato que deu origem ao nosso querido grupo Sonora! Aqui em João Pessoa iniciamos um grupo de estudos presencial sobre música e gênero! A Sonora e o nosso grupo de estudos daqui, têm se configurado como espaços de reflexão, discussão e ação de grande importância para mim!
Obrigada por toda a riqueza e variedade de pessoas e questões que aparecem na Sonora e pela oportunidade de compartilhar um pouco da minha pesquisa e da minha trajetória!
Referências
- NEIVA, Tânia M., CABRAL, Thiago. O Lamento de Fedra ou o Lamento de Lilian Campesato na imagem de Fedra. In: Revista Vórtex, Curitiba, v.3, n.2 (2015), pp. 57-97.
- NEIVA, Tânia M. Cinco mulheres compositoras na música erudita brasileira contemporânea. Dissertação de mestrado. São Paulo, Unicamp, 2006.
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