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Ata da 21ª Reunião – Série Vozes com Valéria Bonafé – (27/06/2016).

“A casa e a represa, a sorte e o corte – ou: a composição musical enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]”. Por Valéria Bonafé. 

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  • Valéria pautou este encontro da série Vozes em sua tese de Doutorado, intitulada “A casa e a represa, a sorte e o corte – ou: a composição musical enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]”. Para conduzir o público pelas diversas linhas que tecem seu trabalho ela propôs algumas leituras e escutas durante a apresentação. Os materiais sugeridos foram usados em sua pesquisa e também são citados na redação final.
  • Um dos textos lidos foi Palomar na praia – leitura de uma onda, de Ítalo Calvino. Palomar foi o último personagem criado por Calvino e tem o mesmo nome de um observatório norte-americano. Ele também é um observador, ponto que o aproxima do pesquisador.
  • O outro texto, A arte da pesquisa em artes – traçando práxis e reflexão, de Kathleen Coessens, versou sobre a diferença entre a visão prismática e a visão binocular. Kathleen diz que “a arte não olha para o mundo através de binóculos, mas sim através de um prisma”. Valéria compartilha esta ideia de Coessens, evocando a imagem da câmara de espelhos projetada por Leonardo da Vinci.
  • Com os elementos citados Valéria compara a pesquisa científica, que relaciona à visão binocular, à pesquisa artística, relacionada ao prisma. Sua tese enfoca a análise e a composição musical. Enquanto disserta sobre aspectos composicionais, a autora se autoanalisa. É este lugar de crítica objetiva e de subjetividade que está sendo pesquisado e apresentado em sua tese.
  • A menina que virou chuva, composta para orquestra em 2013, é uma das peças descortinadas pela compositora. Ela conta como a ideia surgiu, numa noite em que sua irmã dera à luz uma menina. O bebê teve uma curta trajetória na vida familiar de Valéria, vindo a falecer em poucas horas. A artista decide então trabalhar com a morte, elaborando o material composicional como elaborou o sentimento do luto pela sobrinha.
  • A peça foi dividida em 3 partes, relacionadas a momentos naturais da formação da chuva. Evaporação, condensação e liquidificação são associadas a emoções que se transformam com o passar do tempo, como numa experiência de perda.
  • Apesar de testemunhar que a imagem é bastante relevante em suas criações, Valéria conta que fez a nota de programa para a estreia da peça totalmente desvinculada de qualquer conteúdo programático. Expôs somente os dados teóricos, informações sobre intervalos, clusters, etc. 
  • A escrita usada em sua tese é bastante flexível, passa tanto por descrições minuciosas de detalhes técnicos como por trechos autobiográficos mais coloquiais. A intenção foi ordenar momentos de sua vida profissional, pontuando sua obra.
  • O resultado é uma tese com formato é livre e artístico, dando prioridade à estética, à poética e à informação. É uma forma ousada, considerando o contexto acadêmico em que foi gerada e onde está prestes a ser arguida.

Do debate

  • Entre as questões suscitadas pela apresentação de Valéria, uma abordou a resistência da autora em relatar o momento emocional que inspirou a composição A menina que virou chuva. Foi perguntado também se a questão de gênero pesou para que ela assumisse uma escrita mais científica, desvinculada de aspectos tido como sensíveis – habitualmente relacionados à figura feminina.
  • Valéria disse que a pseudo “timidez” tinha mais a ver com o momento de sua carreira, em que ela ainda não tinha tanta experiência em escrever programas para suas próprias peças. Sua “personalidade artística” estava um tanto quanto em formação. A escrita de sua tese, num formato fora dos padrões acadêmicos, mostra como este trajeto já está bastante sedimentado, tendo mais a ver com seu desejo de como quer ser entendida pelo público.
  • Outra questão foi sobre o formato do texto da tese. Valéria disse que escolheu escrever em pequenos cadernos para não “entregar” a sua própria interpretação ao leitor. Ela espera que o leitor mergulhe nos diferentes cadernos, vídeos e gravações, assimilando as informações sobre sua música à sua maneira. Como se o leitor entrasse com a tese na câmara de espelhos de da Vinci.
  • Surgiu também o interesse no que resultou do processo de autoanálise a que a autora se submeteu durante a confecção de sua tese. Se ela encontrou “lados obscuros” de sua personalidade e se este processo motivou outras escolhas composicionais.
  • Valéria disse que a tese motivou uma retomada de material e de processos que foi gostosa e importante. No momento atual ela se diz ansiosa por compor, já que esteve envolvida com a redação do trabalho por mais de um ano.
  • Em relação a sua relação com a interpretação de sua obra, Valéria disse que gosta de interagir com o/a intérprete na construção das sonoridades de suas peças. Ela disse que toca suas obras ao piano, nem sempre na velocidade ideal, mas nunca as ouve no computador. Escreve à mão, no papel, depois passa para a versão digitalizada.
  • Em relação ao feminismo, diz que o convívio com a Sonora impactou sua vivência pessoal e profissional. Isto pode ser notado em sua tese, influenciando a maneira como a redigiu. Já há algum tempo Valéria havia percebido a pouca representatividade das mulheres na composição erudita, quão poucas eram suas colegas na faculdade e no meio musical em geral. Há uma vontade de modificar e recriar este panorama.

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Vozes – Valéria Bonafé (Divulgação)

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Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 27/06, às 17h30. Nesse encontro a compositora Valéria Bonafé falará sobre sua tese de doutorado recém concluída “A casa e a represa, a sorte e o corte. Ou: A composição enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]” e também sobre algumas de suas composições.

 

Valéria Bonafé é compositora, pesquisadora e professora. Registros dos seus trabalhos podem ser encontrados no seu site www.valeriabonafe.com ou em www.soundcloud.com/valeriabonafe.

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Vozes – Roseane Yampolschi

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Fotografia da compositora Roseane Yampolschi para o site Artes Visuais e Música da UFPR.

 

A segunda edição da série Vozes e contou com a participação de Roseane Yampolschi, compositora, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Composição pela UFRJ, Doutora em Música/Composição pela University of Illinois e com Pós-Doutorado pelo King’s College, Roseane atua nas áreas de Composição e Projetos Criativos em Arte Sonora da UFPR. Suas atividades em composição abrangem áreas diversas, conferindo-lhe prêmios no Brasil e no exterior. Tal diversidade foi incrementada pela inclusão, em sua formação, de uma Pós-Graduação em Filosofia, na UFMG.

Roseane dá grande importância à interdisciplinaridade na formação do músico. Além da formação como instrutora de Tai Chi Chuan, a compositora trabalhou também por 5 anos em terapia ocupacional, atividade que teve impacto em sua futura atividade composicional. A tomada de posse da música como atividade primeira teria sido, segundo a compositora, a conquista de um prêmio em composição oferecido pela Bienal de Música Brasileira Contemporânea. A partir daí reconheceu-se como criadora da área de Música e foi beber em outras fontes, dentro e fora do Brasil.

A linguagem musical de Roseane tem como preocupação os elementos timbre e textura, bem como a atuação do corpo e do movimento na criação. A Filosofia ocupa lugar de destaque, à medida que a compositora reflete sobre o diálogo em sua produção. Pensa na relação som/movimento, e sua atuação sobre o corpo. Entre suas obras estão Diálogos I e Diálogos II, Candeia e Zikhronot, esta última premiada na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea em 2015.

 

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Convite para a exposição da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

A questão de gênero foi percebida mais conscientemente pela autora durante seu Doutorado nos EUA. A mesma diz ter notado uma sensibilidade diferente da de seus colegas do sexo masculino, principalmente porque ela compunha a partir da vivência do tempo em seu corpo, que era um corpo feminino.

Roseane reconhece que os feminismos tem suas particularidades de artista para artista, mas insiste que, tendo o corpo grande responsabilidade no ato da composição, ele marca definitivamente a obra criada por mulheres. Em sua visão, esta é a grande contribuição da mulher compositora para o âmbito da composição musical.

 

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Fotografia da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

Entre exemplos de seu trabalho composicional, Roseane apresentou Prosa e Verso, estreada em 2012, e Nem tudo é provisório, instalação sonora de 2010. Sobre esta última a autora disse no catálogo da exposição/instalação: “da natureza da arte interdisciplinar, diz-se que ela nasce e permanece híbrida. é o limite entre as suas bordas que atualiza a inter-relação entre os seus universos artísticos materiais e prevalecentes; é o limite entre as suas estórias que move as expectativas criadas pela memória, imaginação e sentidos. da natureza interdisciplinar, diz-se que ela nasce híbrida, conjugada e imperfeita como uma estrela.”

 

Leituras sugeridas

YAMPOLSCHI, Roseane. O estetismo na música contemporânea. In: Revista Aboré, vol.2, nº.2, 2006.

YAMPOLSCHI, Roseane. O corpo “fala”?: As sensibilidades do corpo na criação musical. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.2, 2014, p.66-81.

Música e métier. Colóquio com Roseane Yampolschi, Antônio Carlos Borges Cunha e Harry Crowl, realizado durante o III Encontro Nacional de Compositores Universitários Curitiba, UFPR, 2005.

 

Transmissão

 

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Vozes – Roseane Yampolschi (Divulgação)

Vozes-RoseaneYampolschi-Flyer

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 23/11, às 14h00. Nesse encontro, receberemos a compositora Roseane Yampolschi para falar do seu trabalho artístico. Excepcionalmente o encontro acontecerá na Sala 12 do CMU-ECA-USP.

Roseane Yampolschi é professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná – UFPR nas áreas de Composição e Projetos Criativos em Arte Sonora. Doutora em Música/Composição (University of Illinois, 1997) e Pós-Doutorada pelo King’s College (2014), suas atividades em composição abrangem áreas diversas, com atuação e prêmios no Brasil e no exterior.