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Ata da reunião de 06/11/2017 – Vozes com Renata Roman

Renata Roman pesquisa as poéticas do som e escuta. Nesta edição da Série Vozes, ela contou que não escolheu o som, antes, foi escolhida por ele. Sua formação é de atriz. Ela iniciou fazendo radio arte, programas ecléticos e outras atividades. Em 2010 fez uma viagem, na qual teve experiências que mudaram sua percepção da arte e do som. Ela estava em Londres, na Tate Gallery, e, de repente, sua escuta se abriu para os sons das pessoas do local, dos ruídos do ambiente, de tudo. Neste momento ela decidiu gravar estes sons e, a partir daí, gravar os sons do mundo.

Voltando ao Brasil, ela descobriu que pouquíssimas pessoas trabalhavam com esta vertente da música e da arte. Todo seu trabalho é voltado, até hoje, para a reprodução daquele momento de abertura auditiva que a artista viveu na Tate.

A gravação de campo está no centro de seu trabalho. Em 2011 ela criou um mapa sonoro do centro de SP, com ajuda de dois artistas espanhóis. Renata se vê como autodidata e, por esta condição, às vezes demora um pouco para desenvolver técnicas e tomar decisões sobre plataformas e recursos afins. Diz que trabalha com a “precariedade”, pois não conta com recurso externo e utiliza materiais que estão ao seu redor, ou que vai buscar por si mesma.

Renata tirou um ano sabático para experimentar as plataformas, editores, etc. Trabalha com o “Audacity”, apesar de algumas pessoas criticarem este programa. Ela entende que a técnica é importante, mas não é determinante. Se a (o) artista se empenha, dá para se virar.

Obras, processos

Em 2013, Renata foi convidada pela Radia network, para fazer um programa de radio arte na Resonance FM. Ela abordou a temática indígena, que lhe é muito presente e está em suas preocupações. Este programa, intitulado “Native”, foi posteriormente reeditado e está disponível em seu site https://renataroman.tumblr.com/radio .  Recentemente a artista Janete El Haouli colocou “Native” na Documenta.

A gravação de “Native” foi feita em Paraty, com um jovem indígena. Ela também gravou manifestações indígenas, trabalhando tudo isso com mixagem. Renata acha que, neste sentido, seu trabalho tem uma intenção política, de chamar atenção para questões como o abandono dos índios e a falta de respeito a seus direitos.

Em “Ornitorrinco”, também disponível no link citado, a inspiração foi a questão Norte-Sul, e os reflexos desta dicotomia no Brasil. Foi composta para a Süden Radio.

Em relação ao seu processo de criação, ela primeiro escolhe um tema. Fica um tempo mergulhando no tema, colhendo material, pesquisando. Renata não pensa no material sonoro a priori, mas sim nos textos, nas temáticas. Conforme ela começa a gravar, as necessidades aparecem e ela vai escolhendo os sons para ilustrar as imagens que lhe vem à mente. Seus processos são solitários.

Ela também recebe gravações de outras pessoas, que guarda para usar no momento oportuno.

Renata faz instalações, um outro trabalho diferente do trabalho de radio. Ela quase nunca reutiliza gravações ou trechos em novas produções. Trabalha com fones de ouvido para ter mais clareza de detalhes, mas depois os retira e faz acertos posteriores.

Renata pensa que radio arte é um radio que perde sua função “utilitarista” no sentido de ser uma subversão, uma anti-narrativa. Como se a radio arte fosse poesia e radio fosse prosa. Radio arte é uma peça feita para radio. Feita por artistas.

Em 2015 ela foi comissionada para o Tsonami International Festival of Sound Art, no Chile. Nesta obra a artista não colocou sua própria voz, ela quis dar voz aos que não a tem, aos não ouvidos. A peça se chama “Sampa”. Renata quis mostrar a diversidade de SP, a ocupação do espaço urbano, sem falar, sem ser muito discursiva. Ela fez gravações em bairros e localidades diferentes da cidade. A chamada do festival era Audioficcion: Imaginación sónica y especulación urbana.

Renata gravava com gravador e protetor de vento, mas chamava atenção, as pessoas perguntavam, colocavam a mão no gravador e às vezes estragavam a possibilidade de uma coleta de materiais. Agora ela grava com um Binaural, que é discreto e as pessoas não identificam com um gravador. O problema aí é pessoal, pois às vezes Renata pensa se tem o direito de gravar ao ar livre, indistintamente, com as pessoas desatentas para o fato. Ela imagina como as pessoas sentiriam o resultado da obra. De qualquer forma ela guarda tudo num banco de dados, para peneirar depois.

A artista conta que tem um prazer imenso em escutar o mundo. Sua atenção, na gravação de campo, é total e faz parte do processo de criação. Raramente ela descobre sons ou sensações num segundo momento, depois de terminada a gravação. Isso ocorre simultaneamente.

E a parte prática? É possível sobreviver com a arte sonora?

Renata diz que não. Ela vive da educação, dando oficinas de teatro, nos quais insere a escuta, os processos de criação. Mas não dá para ganhar dinheiro com a arte sonora.

A obra “404 not found” é política. Foi criada em 2014 e usa uma cadeira e uma luz de interrogatório. Outra obra, “Memória da Casa”, trata de cada cômodo de uma casa, imaginando o que aconteceria naqueles espaços. Foi apresentada em 2011. É uma obra complicada, porque depende de ter uma casa vazia para que se possa ouvir os sons arquetípicos de uma casa. Renata levou este projeto para a Argentina, a convite de um artista que encontrou uma casa vazia lá. Este projeto deve ser apresentado 8 vezes e depois abandonado (questões pessoais da artista). Começou sua trajetória em 2012 e a última vez que foi apresentado data de 2015.

Há uma instalação chamada “Euspetáculo”.

 

Música experimental

A mulher na cena experimental usa muito a voz. Por esta razão, Renata quis abordar este tipo de criação usando outros instrumentos. Ela usa as gravações de campo também para compor música experimental. Ela se questionou sobre a diferença entre o radio e a música experimental e chegou à conclusão de que o radio arte é muito mais livre do que a música.

A artista foi para a prática antes de pensar nela. Por isso acha complicado lidar com a subjetividade inerente à composição de música experimental. Para ela, quando pensa em música, pensa mais nos sons do que nos conceitos. Ela crê que a radio arte lhe dá mais possibilidades.

Na peça “Melissa”, feita para o NME com inspiração no chá de melissa, ela usou o clarinete. Ela mesma toca e improvisa ao instrumento. Ela gosta de lidar com o desconforto, tentar coisas novas, instrumentos e procedimentos.

Também para o NME ela compôs “Pytang”. Aqui usou mais gravações de campo. Renata tem também um CD lançado pelo Seminal, o Oye, com gravações de campo em SP. Ela tem também material gravado na Praça da Sé, num projeto chamado “Marco Zero”.

Renata esteve como residente em Cuba, onde também realizou gravações de campo. Ela tem ido várias vezes.

Influências

A artista acha difícil responder a esta pergunta. São muitas referências e, ao mesmo tempo, nenhuma em especial. É complicado não ser injusta ao apontar referências, pois não é possível detectar exatamente quem influenciou qual parte do trabalho ou da trajetória.

Questões de gênero – Dissonantes

As questões de gênero motivaram a criação do projeto “Dissonantes”, uma serie de concertos de mulheres com a parceira Natacha Maurer. Ele vem para tentar responder à pergunta “Onde estão as mulhres na cena experimental? “. Nasceu em 2015. O Dissonantes pensa na ocupação por mulheres da cena da música experimental, seja no palco, na plateia, na produção ou na engenharia de som.

Renata não sente hostilidade em relação à mulher na cena musical. Sente uma indiferença, o que talvez seja um tipo de hostilidade. Existe um discurso de negação desta problemática, velado. Ela diz que precisamos abrir à força os espaços. Não podemos nos intimidar pelo fato de que as mulheres estão sendo mais evidenciadas para não “pegar mal”.

Projetos futuros

Renata está trabalhando em peças radiofônicas, continua com os mapas sonoros e tem outras ideias. O tempo de suas criações pode ser mais longo ou mais curto. Já teve ocasiões em que o prazo se esgotou e ela teve que encarar 15 ou 16 horas seguidas para entregar.

 

 

 

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Vozes – Renata Roman (Divulgação)

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 06/11/2017, às 17h30. Nesse encontro receberemos a artista sonora Renata Roman.

 

Renata Roman pesquisa as poéticas do som e escuta. Seu trabalho transita entre radioarte, instalações, música experimental e cartografia sonora.

Participou de várias mostras e festivais no Brasil e exterior, tais como FILE Hypersonica 2012, 30ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo (Mobile Radio),

Tsonami Córdoba (AR), Echoes/Osso (PT), Hilltown New Music (UK), Süden Radio (IT/DE), DubellRadio Festival (SE), Galeria Perenne (AR),

Radiophrenia (UK), Festival Internacional de Arte Sonoro 2015 (CH), entre outros.

Criou e mantém o mapa sonoro de São Paulo (SP SoundMap) e possui gravações de campo em mapas sonoros colaborativos: Audiomapa (CL) e MoMA (USA).

renataroman.tumblr.com

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Vozes – Denise Garcia (Divulgação)

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 12/06/2017, às 17h30. Nesse encontro receberemos a compositora Denise Garcia.

 

Denise Garcia: Compositora paulista, professora doutora do Instituto de Artes da Unicamp. Bacharel em Música pela USP (1985), Mestre em Artes pela Unicamp (1993) e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (1998). Realizou estudos de composição na Musikakademie Detmold e na Musikhochshule de Munique (1979-1984). Fez estágio de doutorado junto ao INA-GRM em Paris. Realizou pós-doutorado junto à Escola de Música da UFRJ (2007). Sua pesquisa musicológica se concentra na área de análise de música eletroacústica, tendo se dedicado nos últimos anos a pesquisar, documentar e analisar a música eletroacústica brasileira. Como compositora trabalhou em pesquisas interdisciplinares junto ao LUME/UNICAMP, tendo composto música para importantes produções teatrais desse Núcleo, assim como junto a projetos do Departamento de Dança da Unicamp. Nos anos 90 desenvolveu trabalhos na área da música eletroacústica, gênero musical que responde pela maior parte de sua publicação em Cds. Tem dois Cds solos publicados e várias publicações de obras em coletâneas. Nos últimos anos tem composto também obras para Orquestras Sinfônicas. Foi Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Música e Coordenadora dos Cursos de Pós-graduação do Instituto de Artes da Unicamp. Atualmente é Diretora doCiddic – Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural da Unicamp. (Fonte: Currículo Lattes)

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Vozes – Ariane Stolfi (Divulgação)

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 3/04/2017, às 17h30. Nesse encontro receberemos a artista Ariane Stolfi.

 

 

Ariane Stolfi é música, arquiteta, programadora e transita por várias linguagens, edita o site de música experimental finetanks.com. Mestre em design e arquitetura pela FAU-USP e doutoranda em Sonologia pela ECA-USP, desenvolve interfaces interativas em HTML e Pure Data, como o hexagrama essa é pra tocar para a exposição Gil70, em parceria com Gabriel Kerhart e Daniel Scandurra e a performance cromocinética, com o coletivo 24h. Participou dos festivais Submidialogias (2010), #Dis Experimental (2011) e da Virada Cultural (2012). Desde 2015 faz parte do grupo Sonora, músicas e feminismos, e do NuSom – Núcleo de Pesquisas em Sonologia da USP, onde desenvolve o projeto Banda Aberta em parceria com Fabio Goródscy e participa com o grupo de improvisação livre Orquestra Errante como cantora e percussionista.

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Ata da reunião de 03/04/2017 – Série Vozes com Ariane Stolfi

Nesta entrevista da série Vozes, Ariane Stolfi contou sobre sua trajetória a partir de uma formação em Arquitetura (mais focada em web design) rumo à pesquisa em música na ECA-USP. Atualmente ela é doutoranda no Depto. de Música desta universidade, e está de partida para uma experiência de bolsa-sanduíche na Inglaterra.

Ariane iniciou a busca em música através de programas como PD, linguagem html, entre outras. Trabalhou em instalações e performances, colaborando na parte de design e tecnologia e aprendendo a parte musical com artistas parceiros. Foi se inserindo na produção de ruídos eletrônicos, aprimorando a técnica e refinando a sonoridade obtida, até decidir entrar na área musical da academia, onde é membro do NuSom, Orquestra Errante, rede Sonora, etc.

Na pós-graduação em música, Ariane retomou o trabalho com a própria voz, que havia deixado um pouco de lado após algumas experiências cantando marchinhas de carnaval e outras composições próprias. Redescobriu também o xequerê, instrumento que toca na Orquestra Errante e em blocos dos quais faz parte. O trabalho vocal foi no campo experimental, com ruídos guturais, texturas e sonoridades diversas. Alguns exemplos destas práticas estão no seu soundcloud.

O blókõkê foi outra investida, em contato com pessoas de baterias diversas, arquitetas e arquitetos com desejo de fazer música. O bloco toca música de karaokê, coisas que todos saibam a letra e vários microfones para que o público participe.

As experiências com improvisação e arte sonora estão também em seu projeto banda aberta. Ariane se interessa pelo lado lúdico, acessível e abrangente do fazer musical, o que é possibilitado pela tecnologia do projeto Banda Aberta. As letras e sílabas são transformadas em tipologias, com as que brinca criando desenhos, séries e módulos. Cria frequências e as associa a vogais e consoantes. O resultado é dinâmico e, ao mesmo tempo, controlável.

O público da série Vozes pôde interagir e experimentar seu programa de Banda Aberta: cada um com seu celular escrevia frases, letras, palavras, e isso era transformado em som que ia se somando aos demais. Inclusive as pessoas que assistiram por hangout.

Ariane usa programas da arquitetura na música. Ela consegue transpor uma linguagem para o outro campo com facilidade. Gosta de criar ferramentas para criar, para si mesma e para outras pessoas.

Tem também experiência docente, na faculdade de arquitetura. O Doutorado vem também potencializar esta sua via produtiva.

Em relação ao feminismo, Ariane disse que não pensava tanto em questão de gênero, mas em questões de classe. Porém, ela entende que as mulheres têm mais dificuldade de se colocar na música experimental, tecnológica, o que, em termos, a obriga a ter uma titulação como o Doutorado para ter um espaço neste ambiente. Sua entrada na Sonora lhe mostrou que ela não é a única a sofrer com estas barreiras.

 

 

 

 

 

 

 

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Ata da 7ª Reunião do 2º semestre 02/10/2016 Série Vozes com Janete El Haouli

Tópicos abordados

Janete começou dizendo que estava feliz em voltar para casa, pois fez Mestrado e Doutorado na ECA. O projeto da Radio-Arte fez parte de seu Doutorado, cursado no Depto de Cinema (Audiovisual). Janete é Bacharel em Piano, mas se identifica como intérprete, professora, pesquisadora, produtora e artista sonora. Entre os tópicos enfocados pela musicista estão:

  • Infância em Cambé (PR). Em sua casa ouvia música libanesa tradicional, como o Sabah, entre outros. Janete foi fortemente influenciada por esta cultura. Como o ambiente fosse conservador e rígido, sua mãe exigiu que estudasse piano, pois era um estudo artístico considerado recatado.
  • Foi muito bem-sucedida na carreira de intérprete do piano, ganhando vários primeiros prêmios de interpretação.
  • Posteriormente estudou com Hans Joachim Koellreutter, que lhe apresentou um novo mundo sonoro e social. Janete deixou o piano temporariamente, enveredando pela música contemporânea através de várias vertentes.
  • Trabalhou na Universidade de Londrina, onde assumiu a Radio Universitária. Sua primeira entrada no estúdio de rádio foi em 1991, produzindo um programa de música contemporânea. Seus programas eram focados na imprevisibilidade. Ela programava propositadamente músicas totalmente díspares, para manter o ouvinte atento e dar-lhes coisas novas (ou pouco conhecidas).
  • Poucas mulheres fazem radio no Brasil e no mundo. Janete encontrou bastante resistência ao apresentar seu programa Música Nova por não ter um formato convencional. Terminou por fazer desta experiência objeto de seu Doutorado, durante o qual foi à Europa conhecer diversos estúdios de radio. Trabalhou com Hermeto Paschoal, entre outros.
  • Nesta Serie Vozes, Janete apresentou um trabalho de radio-arte feito na Alemanha, baseado em Demetrio Stratos. Demetrio, músico grego nascido em Alexandria, foi objeto de sua pesquisa de Mestrado. Neste programa de radio ela misturou textos e melodias processadas, que giravam em torno de Demetrio.
  • Outro trabalho apresentado foi RadioRizoma.
  • Janete falou da diferença entre produzir um programa de radio artístico na Alemanha e em Londrina. Na Alemanha o trabalho era comissionado e a instituição financiadora ficava com a obra. O(A) autor(a) não ficava com cópia de sua obra, que poderia ser repetida mediante pagamento parcial.
  • Perguntada sobre o que ainda a surpreende em matéria de som, Janete contou que anda por diferentes lugares gravando paisagens sonoras. Ela gosta também de músicas de tradição e transmissão oral, música étnica, diversos tipos.
  • Janete contou sobre a problemática do poder, de quando os(as) detentores(as) do poder percebem o quanto a audiência é significativa e mudam o direcionamento das rádios. O aspecto educativo é deixado em segundo plano, quando não é deturpado em seus objetivos de educação estética.
  • A radio deixou de ser veículo de informação para ser um repositório, que a(o) ouvinte acessa quando quer e escolhe a programação. Isto muda o caráter de atividade artística do veículo de comunicação.
  • Valeria perguntou sobre a questão de gênero no âmbito da radio. Janete disse que não costuma se ater muito a pesquisar o assunto, mas que o gênero certamente influenciou sua trajetória e continua marcando sua vida.
  • Em sua opinião, muitas mulheres não têm clareza em relação ao que querem. Quando esta clareza existe, ainda assim não é fácil. É preciso ter coragem. Janete assumiu varias posições de liderança durante a carreira profissional e diz que as mulheres precisam assumir riscos e enfrentar barreiras.
  • Várias(os) ouvintes fizeram perguntas e elogiaram muito a apresentação da musicista.
  • Sua última apresentação foi uma gravação de sua mãe um mês antes de falecer. Sobre esta gravação há uma locução/intervenção que colabora no sentido de lhe dar expressividade.

 

Próximo encontro

  • Dia 10/10 Reunião Operacional

 

O encontro de hoje está disponível em:

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Vozes – Janete El Haouli (divulgação)

Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 3/10, às 17h30. Nesse encontro receberemos a artista Janete El Haouli.

 

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Janete El Haouli é musicista, produtora cultural e pesquisadora com ênfase em rádio como mídia experimental, em voz musical estendida, ecologia sonora e paisagem sonora. Possui bacharelado em Música (piano) pela Faculdade de Música Mãe de Deus de Londrina, PR (1977), Mestrado em Ciências da Comunicação com a dissertação “Demetrio Stratos: a escuta da voz-música” (1993) e Doutorado em Artes com a tese “RadioPaisagem” (2000), os dois últimos pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou um Pós-doutorado pela Escola de Musica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre “Arte Acústica Radiofônica” (2007) e foi Professora na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Departamento de Música e Teatro, entre 1981-2011. Criou e coordenou o programa radiofônico “Música Nova: rádio para ouvidos pensantes” (1991-2005) pela Radio UEL-FM e o Núcleo de Música Contemporânea da UEL (1993-2008). Foi diretora da Rádio Educativa UEL-FM (2001-2005), da Casa de Cultura da UEL (2007-2010) e do Setor de Informação e Comunicação do Centro Cultural São Paulo (2012). Em 2013 criou e atualmente coordena o espaço ‘TOCA: arte ação criação” na cidade de Londrina, através do qual segue promovendo e organizando atividades pedagógicas, de criação e de pesquisas na área da experimentação vocal, da arte radiofônica, da criação com paisagens sonoras e da ecologia sonora. Seus trabalhos tem sido apresentados em eventos no Brasil e no Exterior. Em 2014 recebeu prêmio internacional no Concurso de Produções Radiofônicas da 10ª Bienal Internacional de Rádio do Mexico. Integra o Collectif Environnement Sonore (France- Suisse) e o Grupo Ars Acustica International.

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Ata da 21ª Reunião – Série Vozes com Valéria Bonafé – (27/06/2016).

“A casa e a represa, a sorte e o corte – ou: a composição musical enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]”. Por Valéria Bonafé. 

Tópicos

  • Valéria pautou este encontro da série Vozes em sua tese de Doutorado, intitulada “A casa e a represa, a sorte e o corte – ou: a composição musical enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]”. Para conduzir o público pelas diversas linhas que tecem seu trabalho ela propôs algumas leituras e escutas durante a apresentação. Os materiais sugeridos foram usados em sua pesquisa e também são citados na redação final.
  • Um dos textos lidos foi Palomar na praia – leitura de uma onda, de Ítalo Calvino. Palomar foi o último personagem criado por Calvino e tem o mesmo nome de um observatório norte-americano. Ele também é um observador, ponto que o aproxima do pesquisador.
  • O outro texto, A arte da pesquisa em artes – traçando práxis e reflexão, de Kathleen Coessens, versou sobre a diferença entre a visão prismática e a visão binocular. Kathleen diz que “a arte não olha para o mundo através de binóculos, mas sim através de um prisma”. Valéria compartilha esta ideia de Coessens, evocando a imagem da câmara de espelhos projetada por Leonardo da Vinci.
  • Com os elementos citados Valéria compara a pesquisa científica, que relaciona à visão binocular, à pesquisa artística, relacionada ao prisma. Sua tese enfoca a análise e a composição musical. Enquanto disserta sobre aspectos composicionais, a autora se autoanalisa. É este lugar de crítica objetiva e de subjetividade que está sendo pesquisado e apresentado em sua tese.
  • A menina que virou chuva, composta para orquestra em 2013, é uma das peças descortinadas pela compositora. Ela conta como a ideia surgiu, numa noite em que sua irmã dera à luz uma menina. O bebê teve uma curta trajetória na vida familiar de Valéria, vindo a falecer em poucas horas. A artista decide então trabalhar com a morte, elaborando o material composicional como elaborou o sentimento do luto pela sobrinha.
  • A peça foi dividida em 3 partes, relacionadas a momentos naturais da formação da chuva. Evaporação, condensação e liquidificação são associadas a emoções que se transformam com o passar do tempo, como numa experiência de perda.
  • Apesar de testemunhar que a imagem é bastante relevante em suas criações, Valéria conta que fez a nota de programa para a estreia da peça totalmente desvinculada de qualquer conteúdo programático. Expôs somente os dados teóricos, informações sobre intervalos, clusters, etc. 
  • A escrita usada em sua tese é bastante flexível, passa tanto por descrições minuciosas de detalhes técnicos como por trechos autobiográficos mais coloquiais. A intenção foi ordenar momentos de sua vida profissional, pontuando sua obra.
  • O resultado é uma tese com formato é livre e artístico, dando prioridade à estética, à poética e à informação. É uma forma ousada, considerando o contexto acadêmico em que foi gerada e onde está prestes a ser arguida.

Do debate

  • Entre as questões suscitadas pela apresentação de Valéria, uma abordou a resistência da autora em relatar o momento emocional que inspirou a composição A menina que virou chuva. Foi perguntado também se a questão de gênero pesou para que ela assumisse uma escrita mais científica, desvinculada de aspectos tido como sensíveis – habitualmente relacionados à figura feminina.
  • Valéria disse que a pseudo “timidez” tinha mais a ver com o momento de sua carreira, em que ela ainda não tinha tanta experiência em escrever programas para suas próprias peças. Sua “personalidade artística” estava um tanto quanto em formação. A escrita de sua tese, num formato fora dos padrões acadêmicos, mostra como este trajeto já está bastante sedimentado, tendo mais a ver com seu desejo de como quer ser entendida pelo público.
  • Outra questão foi sobre o formato do texto da tese. Valéria disse que escolheu escrever em pequenos cadernos para não “entregar” a sua própria interpretação ao leitor. Ela espera que o leitor mergulhe nos diferentes cadernos, vídeos e gravações, assimilando as informações sobre sua música à sua maneira. Como se o leitor entrasse com a tese na câmara de espelhos de da Vinci.
  • Surgiu também o interesse no que resultou do processo de autoanálise a que a autora se submeteu durante a confecção de sua tese. Se ela encontrou “lados obscuros” de sua personalidade e se este processo motivou outras escolhas composicionais.
  • Valéria disse que a tese motivou uma retomada de material e de processos que foi gostosa e importante. No momento atual ela se diz ansiosa por compor, já que esteve envolvida com a redação do trabalho por mais de um ano.
  • Em relação a sua relação com a interpretação de sua obra, Valéria disse que gosta de interagir com o/a intérprete na construção das sonoridades de suas peças. Ela disse que toca suas obras ao piano, nem sempre na velocidade ideal, mas nunca as ouve no computador. Escreve à mão, no papel, depois passa para a versão digitalizada.
  • Em relação ao feminismo, diz que o convívio com a Sonora impactou sua vivência pessoal e profissional. Isto pode ser notado em sua tese, influenciando a maneira como a redigiu. Já há algum tempo Valéria havia percebido a pouca representatividade das mulheres na composição erudita, quão poucas eram suas colegas na faculdade e no meio musical em geral. Há uma vontade de modificar e recriar este panorama.

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Vozes – Valéria Bonafé (Divulgação)

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Sonora convida para mais uma edição da série Vozes na próxima segunda-feira, 27/06, às 17h30. Nesse encontro a compositora Valéria Bonafé falará sobre sua tese de doutorado recém concluída “A casa e a represa, a sorte e o corte. Ou: A composição enquanto imaginação de formas, sonoridades, tempos [e espaços]” e também sobre algumas de suas composições.

 

Valéria Bonafé é compositora, pesquisadora e professora. Registros dos seus trabalhos podem ser encontrados no seu site www.valeriabonafe.com ou em www.soundcloud.com/valeriabonafe.

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Vozes – Roseane Yampolschi

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Fotografia da compositora Roseane Yampolschi para o site Artes Visuais e Música da UFPR.

 

A segunda edição da série Vozes e contou com a participação de Roseane Yampolschi, compositora, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Composição pela UFRJ, Doutora em Música/Composição pela University of Illinois e com Pós-Doutorado pelo King’s College, Roseane atua nas áreas de Composição e Projetos Criativos em Arte Sonora da UFPR. Suas atividades em composição abrangem áreas diversas, conferindo-lhe prêmios no Brasil e no exterior. Tal diversidade foi incrementada pela inclusão, em sua formação, de uma Pós-Graduação em Filosofia, na UFMG.

Roseane dá grande importância à interdisciplinaridade na formação do músico. Além da formação como instrutora de Tai Chi Chuan, a compositora trabalhou também por 5 anos em terapia ocupacional, atividade que teve impacto em sua futura atividade composicional. A tomada de posse da música como atividade primeira teria sido, segundo a compositora, a conquista de um prêmio em composição oferecido pela Bienal de Música Brasileira Contemporânea. A partir daí reconheceu-se como criadora da área de Música e foi beber em outras fontes, dentro e fora do Brasil.

A linguagem musical de Roseane tem como preocupação os elementos timbre e textura, bem como a atuação do corpo e do movimento na criação. A Filosofia ocupa lugar de destaque, à medida que a compositora reflete sobre o diálogo em sua produção. Pensa na relação som/movimento, e sua atuação sobre o corpo. Entre suas obras estão Diálogos I e Diálogos II, Candeia e Zikhronot, esta última premiada na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea em 2015.

 

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Convite para a exposição da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

A questão de gênero foi percebida mais conscientemente pela autora durante seu Doutorado nos EUA. A mesma diz ter notado uma sensibilidade diferente da de seus colegas do sexo masculino, principalmente porque ela compunha a partir da vivência do tempo em seu corpo, que era um corpo feminino.

Roseane reconhece que os feminismos tem suas particularidades de artista para artista, mas insiste que, tendo o corpo grande responsabilidade no ato da composição, ele marca definitivamente a obra criada por mulheres. Em sua visão, esta é a grande contribuição da mulher compositora para o âmbito da composição musical.

 

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Fotografia da instalação sonora Nem tudo é provisório, de Roseane Yampolschi e Eliana Borges.

 

Entre exemplos de seu trabalho composicional, Roseane apresentou Prosa e Verso, estreada em 2012, e Nem tudo é provisório, instalação sonora de 2010. Sobre esta última a autora disse no catálogo da exposição/instalação: “da natureza da arte interdisciplinar, diz-se que ela nasce e permanece híbrida. é o limite entre as suas bordas que atualiza a inter-relação entre os seus universos artísticos materiais e prevalecentes; é o limite entre as suas estórias que move as expectativas criadas pela memória, imaginação e sentidos. da natureza interdisciplinar, diz-se que ela nasce híbrida, conjugada e imperfeita como uma estrela.”

 

Leituras sugeridas

YAMPOLSCHI, Roseane. O estetismo na música contemporânea. In: Revista Aboré, vol.2, nº.2, 2006.

YAMPOLSCHI, Roseane. O corpo “fala”?: As sensibilidades do corpo na criação musical. Revista Vórtex, Curitiba, v.2, n.2, 2014, p.66-81.

Música e métier. Colóquio com Roseane Yampolschi, Antônio Carlos Borges Cunha e Harry Crowl, realizado durante o III Encontro Nacional de Compositores Universitários Curitiba, UFPR, 2005.

 

Transmissão