
Visões: “Cartografias da canção feminina” – com Carô Murgel

A reunião de hoje teve uma convidada, a cantora e pesquisadora Ligiana Costa, que veio para falar de projetos junto à OSUSP, na esteira do que foi falado no último encontro sobre o novo regente Fabio Cury e suas ideias para a orquestra. Como o Fabio havia se aproximado da Lilian para inserir a temática de gênero na programação, as duas – Lilian e Ligiana – pensaram em fazer uma proposta com a Sonora.
Entre os desejos para esta proposta, um seria o de mexer com a própria estrutura da orquestra valorizando a participação das mulheres do grupo. Outro seria inserir sons eletrônicos, sons do universo pop, sonoridades contemporâneas. Além disso, estender o projeto de recital para oficinas paralelas ligadas às mulheres.
A chamada seria para compositoras, uma arranjadora, iluminação, vídeo, concepção e produção do projeto. A Sonora poderia indicar mulheres para estes lugares.
Ficou combinado que faremos um novo encontro para discutir esta proposta, com um esqueleto já delineado. Este esqueleto será formulado a partir de um esboço formulado pela Ligiana e enviado ao email sonoramulheres para ver quem quer participar e como.
Depois disso, a pauta foi a seguinte:
Calendário
Informes
Radio
Inserção de nomes no site
A reunião de hoje teve 3 convidadas de um grupo de estudos da UNESP, estudiosas das questões de gênero na música. Elas expuseram seus anseios e as razões pelas quais formaram o grupo. Elas perceberam a maior ausência de mulheres nos cursos de composição e regência, além da evasão de estudantes destes cursos – principalmente mulheres. O grupo de estudos delas se chama Vozes Inaudiáveis. Elas estão em busca de repertório de mulheres para inserir nos concertos, etc. A Sonora se interessa muito em juntar forças com este grupo.
Além delas, a Tide Borges integrou o encontro e pretende estar mais presente nas reuniões da rede. Ela falou da importância de falar sobre as histórias das mulheres, entre outros, porque quando a gente fala a gente também se ouve.
Foi apresentado um breve resumo das atividades da Sonora para as novas integrantes. Logo após esta introdução, passamos aos informes.
Informes
Propostas de calendário
Radio
Inserção de nomes no site
O evento de hoje reuniu duas musicistas, artistas e pesquisadoras em torno da temática de gênero. Elas estão desenvolvendo um projeto conjunto, financiado pelo British Arts Council e pelo CNPQ. Este projeto pretende desenvolver uma prática artística baseada em processos feministas, bem como criar uma metodologia inovadora para o envolvimento da comunidade com mulheres e meninas.
Linda iniciou o evento falando de sua atividade e experiência, e sobre como esta coincide com a de Isabel Nogueira em alguns pontos, o que possibilita esta conversa conjunta.
Linda trabalha com o som como material, como um elemento artístico e visual. Ela estudou Artes Plásticas e fez a intersecção entre as linguagens. Trabalhou em instalações e trabalhos artísticos envolvendo dança, radio, performance, entre outros, por uns 5 anos. Depois disso fez uma 2ª pós-graduação em comunicação e tecnologia que envolve o som, em Chicago.
Chegou a Chicago em 2008, num momento político bastante instável. A cidade tem um sério problema racial, de preconceito e racismo. Linda não entendia isso naquela época, mas veio a perceber com o tempo. Quis pesquisar esta relação social entre adolescentes, pessoas menos favorecidas economicamente e comunidades e seu trabalho. Estudou metodologias ligadas a este tipo de pesquisa.
Algumas de suas pesquisas envolvem instalações que podem ser visitadas online, em seu website. São experiências virtuais. Ela coloca nestas instalações questões como feminismo, meio-ambiente, desigualdade social, etc. Também pensa nos efeitos que as novas tecnologias têm e terão no ambiente. Ela mostrou algumas instalações que estão funcionando em seu país neste momento.
Uma das preocupações de Linda é a ausência de mulheres no âmbito da educação acadêmica, especialmente no que se refere ao uso de tecnologias. Ela fala também da dificuldade de conseguir financiamento para os eventos que organiza.
Isabel contou sobre o trabalho que vem desenvolvendo na universidade em que leciona, em Porto Alegre (UFRGS), junto a grupos, estudantes e profissionais, sobre corpo e música relacionados a gênero. Ela está trabalhando com o grupo coordenado, entre outros (as), por Marilia Velardi. Coordena o Simpósio Temático relacionado a pesquisas de gênero no Congresso da ANPPOM em 2018, entre muitas outras atividades.
Isabel convidou Linda para trabalhar consigo alguns anos atrás. Atualmente elas têm um projeto para construir instrumentos e ensinar tecnologia para mulheres. Elas trabalham bastante com soundwalkings. A ideia é mostrar às mulheres que elas podem lidar com tecnologias diversas na música e na arte.
Soundwalkings
Linda diz que a escuta difere de acordo com o gênero. Mulheres são silenciosas, tímidas, não aprendem a ser barulhentas. Elas percebem o mundo como ruidoso demais às vezes, acham que homens são barulhentos, perturbadores. Nas caminhadas sonoras, mulheres são convidadas a usar a escuta como primeira fonte sensorial, captando sons e pensando sobre eles e o que representam no espaço.
Existem métodos para realizar um soundwalking. Podem envolver gravações de histórias sobre os lugares em que passam, etc.
“Decisões sobre o lugar, estilo, conteúdo e montagem do som numa caminhada sonora tem consequências políticas, sociais e ecológicas. Estas caminhadas acontecem em espaços urbanos, rurais, selvagens ou mistos”(slide de Linda O’Keeffe).
A metodologia envolve a percepção sobre a escuta involuntária e a voluntária, seletiva, inclusiva ou excludente que ocorre o tempo todo.
Métodos
Trabalhando com artistas: esta prática possibilita o compartilhamento de habilidades, colaboração entre membros do grupo e a criação de espaços seguros.
Trabalhando em escolas: envolve a criação de modelos em som, tecnologia e música. Desenvolve habilidades em tecnologia e produção sonora, além da interação entre professores (as) e estudantes.
Uma das ferramentas usadas é a caixa com aparelhos e objetos sonoros que Linda e sua equipe enviam às escolas para que façam atividades similares. Chama-se research in a box.
Em relação à montagem da caixa, Linda pergunta às professoras e professores o que querem usar e para que. Pergunta e discute também com alunas e alunos para ver o que funciona e o que não.
Mulheres e tecnologia
Isabel e Linda estão trabalhando juntas, dividindo suas percepções acerca dos avanços, dos medos, da insegurança em relação à tecnologias. Mulheres geralmente têm a sensação de que lhes falta conhecimento neste campo, de que não aprenderam da maneira apropriada, até porque não frequentaram, ou pelo menos não de igual maneira, os mesmos lugares frequentados pelos homens.
Dificuldades em relação à divulgação e adesão ao projeto
Linda disse que uma das dificuldades enfrentadas por ela é envolver professores homens no projeto. Eles agem como se não tivessem que lidar com este tipo de problema, da desigualdade de gênero (além da racial e social).
Linda reforça que meninos precisam saber dividir o espaço com meninas, precisam saber das dificuldades que elas enfrentam, para ter um ambiente mais diverso – incluindo pessoas de cores e níveis econômicos diferentes. Mas ela diz que em UK este diálogo é bem difícil ainda.
Esta é uma das razões porque ela escolheu pesquisar este assunto, para promover mudanças neste espectro.
O evento completo pode ser conferido no link
Linda O Keeffe (IRE / UK) e Isabel Nogueira (BRA) apresentarão uma discussão sobre seu projeto colaborativo, Soando o Corpo Feminista. Este projeto é financiado pelo British Arts Council e pelo CNPQ. O trabalho é dividido em duas partes, em primeiro lugar, o desenvolvimento de uma nova prática artística baseada em processos feministas e, em segundo lugar, o desenvolvimento de uma metodologia inovadora para o envolvimento da comunidade com mulheres e meninas, Ressonando o Corpo Feminino no Espaço. O Keeffe e Isabel apresentarão as atividades atuais que aconteceram em Porto Alegre e exemplos de trabalho que estão criando juntos.
Linda O Keeffe é fundadora da organização Women on Sound Women in Sound, uma rede que une indivíduos, grupos e organizações, promovendo a troca de conhecimento que molda nossa atual compreensão de som e tecnologia (www.wiswos.com). Ela também é editora do Interference Journal, uma revista acadêmica sobre cultura do áudio (www.interferencejournal.org). Ela é mais conhecida por seu trabalho analisando as condições sociais do espaço em relação à percepção e ao som, mas o impacto do gênero, de ser uma mulher no espaço, levou a uma reconfiguração de sua prática. Trabalhos recentes em grande escala incluíram uma comissão de 2016 para a Bienal irlandesa ‘My Voice is Still Lost’, que explorou o papel da igreja católica nos papéis das mulheres e na sexualidade na vida cotidiana na Irlanda e ‘Score For Her’ no Cibelo Cibelo Palace Concert salão em Madrid em 2017. www.lindaokeeffe.com
Isabel Nogueira é compositora-performer e musicóloga, doutora em musicologia (UAM/ Espanha) e graduada em piano (UFPel). Pesquisadora do CNPQ e professora Titular do Departamento de Música (IA/UFRGS), atuando na graduação e pós-graduação. Coordena o Grupo de Pesquisa em Estudos de Gênero, Corpo e Música (UFRGS), tem pesquisas sobre música e gênero, performance e criação sonora. Lançou os discos Impermanente movimento, Voicing e LusqueFusque (2016), Mar de tralhas, Betamaxers, Légua, Meteoro-phoenix, Unlikely Objects e Hybrid (2017), Zah e Isama Noko (2018). Participa dos trabalhos colaborativos Medula Experimentos Sonoros (RS), Elatrônicas (RS), Strana Lektiri (com Leandra Lambert), Mulheres na Lua: som e movimento (com Ana Fridman) e If I Were Me (com Linda O’Keeffe).
Esta é a 13ª edição da Série Vozes. É também a data em que a compositora brasileira Vania Dantas Leite faria 73 anos. Vania faleceu dia 11/8/2018 e em sua homenagem a Sonora fez uma curta apresentação de sua biografia, seguida da audição de sua peça Di-Stances, composta em 1982.
Conversando com Tide Borges
Tide graduou-se em Comunicação Social, com Habilitação em Cinema, na ECA-USP, em 1984. Foi uma das pioneiras a trabalhar com som direto no Brasil. Desde 82 trabalha com cinema. É Diretora de Som, entre outros, do som do filme “A hora da Estrela”, de Suzana Amaral, e “Mulheres Olímpicas”, de Laís Bodanski.
Tide conta que os primeiros professores que ensinavam a trabalhar com eletrônica na ECA abordavam, principalmente, a física dos sons, suas propriedades. A investigação artística nesta área se deu, para ela, um pouco empiricamente.
Ela conta que no curso de cinema, a parte do “som” era a que menos atraía alunos e alunas. Ela acabava fazendo as trilhas e a produção sonora de todos os filmes da escola.
Usava um gravador portátil, o Naga 3, que havia pertencido à equipe de Thomas Farka, fotógrafo e cineasta conhecido por seus documentários.
Tide voltou à USP para fazer o Mestrado em Ciência da Comunicação. Sua pesquisa, intitulada “A introdução do som direto no cinema documentário brasileiro na década de 1960”, enfocou a ligação do gravador com a possibilidade de se colocar a voz das pessoas nos documentários. Um dos filmes que ela analisou foi “Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, que dava voz às mulheres para saber o que estas achavam da função da mulher na sociedade. Este filme chamou sua atenção porque era raro este interesse pela opinião das mulheres acerca da vida que levavam.
Técnica e criatividade
Tide se especializou mais na captação de sons durante a filmagem e, atualmente, discute o fazer criativo nesta profissão. Critica a visão de que este é um trabalho puramente técnico. Tem que haver uma escuta sensível e criativa na hora de fazer as escolhas do que e como gravar.
Os custos dos equipamentos são outra dificuldade, muitos são importados, tudo é caro. Tide conta que iniciou a parceria com Lia Camargo também para que juntas pudessem comprar equipamentos melhores.
Sua parceria com Lia Camargo vem de décadas. Não há hierarquia nesta relação, o que difere das relações habituais do mundo do cinema. Elas dividem os microfones, até porque dividir a monitoração auxilia a vencer a rapidez das tomadas nas filmagens. Tudo ocorre muito depressa, o ensaio é gravado e pode servir para material definitivo.
Como professora, conta da dificuldade de sistematizar um conhecimento adquirido através da experiência para colocar em suas aulas. O livro “Como fazer um filme”, de Carlos Abbate, foi uma publicação muito útil e cuja tradução foi uma conquista de Tide, entre outros (as). Desde 2010 leciona Direção de Som no curso de cinema da FAAP.
A escolha de microfones, do material ou da forma de trabalhar nem sempre é o principal num filme: o relacionamento entre as pessoas envolvidas numa filmagem é muito importante para a boa realização. Pode haver muita disputa de egos, pois o que cada profissional espera da obra é único e individual. Nem todos (as) entendem como funciona a escuta através do microfone, para o que Tide convida diretores (as) e atores (as) para ouvir com um fone sensível. Com isto eles (as) percebem como é difícil conseguir filtrar falas e sons específicos em meio à poluição sonora comum das cidades.
Tide conta que não costuma ouvir música em seus trajetos, prefere prestar atenção nos sons que a rodeiam. Está fazendo, com alunos e alunas da FAAP, um mapa sonoro da faculdade. Este trabalho de gravação da paisagem sonora do local convida os (as) jovens a conhecer e sentir o espaço que frequentam a partir dos sons.
Sobre a atuação de mulheres na área de sons diretos
Tide conta que já foi mais difícil atuar na direção de som por ser mulher. Entre outras questões, os gravadores eram mais pesados e alguns diretores achavam que mulheres não dariam conta de carregá-los.
A questão familiar é difícil também, pela necessidade de viajar, estar em campo. Tide conta que trabalhou até os 9 meses de sua gravidez, mas depois se dedicou à propaganda por um tempo, para estar mais em casa.
Na docência ela conta que foi privilegiada em certo aspecto pela carência de profissionais da área que tivessem formação acadêmica. O fato de estar na ativa, fazendo filmes, também é valorizado pela faculdade.
Em relação aos salários também, ela não tem reclamações. Mas o assédio existe, apesar de estar diminuindo.
Música x som direto
Tide conta que a relação entre trilha sonora e som direto tem se tornado mais frequente. Eram universos muito distantes, já que a trilha quase sempre chega no final das filmagens. Ela tem trabalhado mais na finalização dos filmes, o que possibilita que faça a interação das composições com o som direto. Sente que quanto mais houver esta interação, melhor será o resultado final.
Tide Borges é graduada (1984) e mestra (2008) em cinema pela Escola de Comunicações de Artes da USP. Desde 1982 trabalha com som. Fez vários curtas, documentários, filmes para a TV, longas-metragens. Além disso, desde 2002, organiza mesas de debate sobre som no cinema durante a Semana ABC. Em 2010 começou a dar aulas para a disciplina Direção de Som no Curso de Cinema da Faculdade de Comunicações da FAAP-SP.
Seus principais trabalhos:
Longa-metragens: A Hora da Estrela e Hotel Atlântico (dir. Suzana Amaral), Dois Coelhos e Mais Forte que o Mundo (dir. Afonso Poyart), Os Amigos (dir. Lina Chamie), Ausência (dir. Chico Teixeira).
Telefilmes: Kurt Masur: adventures in listening (dir. Amit Breuer), Mulheres Olímpicas (dir. Laís Bodanski).
Série Para TV: Os Experientes-Episódio “O primeiro Dia” (dir. geral Fernando Meirelles), Carcereiros II.
Documentários: São Silvestre e Dorina (dir. Lina Chamie), Do pó da terra (dir. Maurício Nahas), Futuro do Pretérito: tropicalismo now (dir. Fracisco César Filho e Ninho Moraes), Variações sobre um quarteto de cordas (dir. Ugo Georgetti), Rogério Duprat: vida de músico (dir. Pedro Vieira), Hip Hop SP (dir. Francisco Cesar Filho).
Lista completa dos trabalhos:
Imdb: https://www.imdb.com/name/nm0096601/?ref_=nv_sr_1
Vídeos no Youtube:
CINEMA POR QUEM O FAZ: Tide Borges
– https://www.youtube.com/watch?v=zWxOl_7r6Kg
Semana ABC 2016 – Entrevista com Tide Borges
– https://www.youtube.com/watch?v=KSrBwcApyR4
Attachments area
Preview YouTube video CINEMA POR QUEM O FAZ: Tide Borges
CINEMA POR QUEM O FAZ: Tide Borges
Preview YouTube video Semana ABC 2016 – Entrevista com Tide Borges
Semana ABC 2016 – Entrevista com Tide Borges
A primeira reunião do semestre foi neste dia gelado, mas com muita energia! Iniciamos, como sempre, com os informes das semanas passadas e planos para as futuras.
Informes
Radio
Linda O’Keefe (palestra-workshop)
Nomes no site
Sugestões para as séries Vozes e/ou Visões
Tarefas
Próximas reuniões:
13/8 – Vozes com Tide Borges
17/8 – Linda O’Keefe com NuSom (sexta a tarde)
20/8 – Operacional enfocando calendário (definir Vozes ou Visões do dia 10/9)
27/8 – Grupo de trabalho para programa de radio (Semana ANPPOM)
3/9 – Feriado
10/9 – Vozes ou Visões?
17/9 – Operacional
24/9 – Recital/palestra (ou conversa) com Eliana (16h no auditório do CMU)
01/10 – Operacional
8/10 – Vozes ou Visões (não pode ser Teca, é aniversário dela). Antonilde? Susana?
Paola é argentina, nascida em Mendoza. Mestre em música pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), é Doutoranda no programa de Pós-Graduação da ECA-USP e professora nas Faculdades Santa Marcelina, FMU/FIAM/FAAM e Fundação das artes de São Caetano do Sul.
Sua dissertação de Mestrado intitula-se “Armando Neves: Choro no violão paulista”. O choro é uma marca importante em seu trabalho, Paola participa do grupo Choronas desde 1995.
Paola toca violão desde criança, tinha um violão verde por ser palmeirense. Seu primeiro professor não foi decisivo na escolha da carreira musical, mas ela quis se graduar em violão e se tornou concertista. Fez a Fundação das Artes e a Faculdade Carlos Gomes. Durante a faculdade teve apoio da família, principalmente da mãe, e assim que se formou ingressou como docente na Fundação das Artes.
Sempre se preocupou com a relação professor-aluno e se esforçou muito para ser digna da responsabilidade de lecionar violão. Estudou o método Kodally na Hungria. Sua pesquisa de Doutorado enfoca esta relação, pensando no ensino de violão em grupo.
O grupo de cordas Chorona surgiu por iniciativa de uma amiga, que queria montar um grupo de mulheres no choro. Uma das primeiras apresentações foi no SESC e atraiu um público significativo. Desta apresentação surgiram convites para concertos, que se tornaram frequentes. Começaram a pensar na estrutura do conjunto, roupas que deveriam usar, programa, gestualidade, divulgação. Até 3 anos atrás o grupo se mantinha o mesmo, agora algumas foram substituídas por se interessarem em seguir outros caminhos.
A prática da performance solo seguiu-se paralelamente, assim como a atividade didática. Paola entrou na Faculdade Santa Marcelina para dar aulas de música erudita e popular. A pesquisa acadêmica se deu pela necessidade profissional, mas ela fez questão de investigar peças musicais que pudesse agregar a seu repertório violonístico.
Assim nasceu a dissertação sobre Armando Neves, orientada pelo professor Ikeda. O material desta pesquisa veio do arquivo do músico Colibri, do Clube do Choro. Paola digitalizou toda a obra de Armando Neves, além de gravar um CD com música do compositor. Nos 50 anos da Fundação das Artes ela apresentou obras dele na Sala São Paulo num evento comemorativo da instituição (https://www.youtube.com/watch?v=RkBj5SqJ0kQ&feature=share).
Um dos motivos do grupo Choronas seguir ativo, segundo Paola, foi a preocupação da integrante Roseli Câmara, com seu formato e estrutura. Roseli vinha do Teatro e acabou saindo, mas as Choronas mantiveram a rotina e a disciplina de gravações. O último CD delas é “Choronas em Sampa”, mas tem diversos outros. Para se atualizar nas mídias elas gravaram um clipe em homenagem a São Paulo. A composição do clipe, “Choronas em Sampa”, é da integrante Ana Claudia Cesar (https://www.youtube.com/watch?v=EGgbrX724No).
As Choronas fazem um trabalho pedagógico de formação de plateia. Já o apresentaram em diversos CEUS, assim como em escolas particulares como o Santa Cruz. Participaram de evento criado pela AVON, tocando o Corta-Jaca de Chiquinha Gonzaga com uma orquestra de mulheres (https://youtu.be/2ln0U3G7Zu4).
Em relação à política de afirmação das mulheres
Choronas é o 1º grupo de choro formado por mulheres. Apresentando, entre outros, mulheres como Chiquinha Gonzaga, elas enfatizam a importância de romper o círculo machista de certos ambientes como o do choro.
Elas já ouviram comentários do tipo “elas tocam como homens”, mas sentem que tem mesmo que sair da zona de conforto e ocupar espaços. Paola tem várias alunas e se sente bem em ser inspiradora através da pedagogia e de seu exemplo pessoal – mãe, mulher, musicista, pedagoga.
Na pedagogia
Paola dá aulas nos cursos de Bacharelado e de Licenciatura. Com estas atividades ela diz que aprendeu muito, até em relação a intérpretes de outros instrumentos que estudam violão.
Ela trabalha também com crianças através de uma ONG israelita. Lá ela desenvolve a musicalidade das crianças, além da relação das mesmas entre si.
Idealizou e implantou o projeto “Ensino coletivo de violão”, culminando na criação da primeira Orquestra de Violões da Fundação das Artes de São Caetano do Sul – da qual é regente e diretora artística. Nesta orquestra insere também a pesquisa sonora que explora novas formas de tocar o instrumento (https://youtu.be/A1vhRXlg72o).
Sobre criação
As Choronas têm inserido cada vez mais composições próprias em seus programas. A ideia é aumentar esta prática. Os arranjos são todos delas e estão em constante mudança. Elas nunca escrevem os arranjos, até porque são mutantes. A improvisação tem lugar nestas propostas.
Sobre autoras mulheres
Um dos próximos projetos das Choronas é gravar obras de autoras mulheres. Para isso elas estão fazendo pesquisa de repertório. Já gravaram um DVD com uma opereta sobre Chiquinha Gonzaga para o projeto TUCCA – Aprendiz de Maestro, que angaria fundos para tratamento de crianças com câncer. A opereta foi gravada na Sala São Paulo, com regência de João Mauricio Galindo.
Sobre organização e divulgação
As Choronas tem uma pessoa responsável, um produtor, para pesquisar e escrever projetos para editais, firmar parcerias, etc. Não foi sempre assim, antes elas mesmas faziam esta parte. O grupo chegou a bancar 2 integrantes para fazerem cursos de produção e confecção de projetos para editais. Todas aprenderam muito com isso.
Sobre profissão e maternidade
Como organizar o tempo numa profissão autônoma como a de intérprete? Não ter uma licença maternidade definida atrapalha?
Paola diz que o segredo é ter um bom parceiro, como seu marido Paulo Tiné. E saber delegar funções, aprender a não monopolizar as funções relativas aos filhos. Deixar que as crianças tenham contato com o pai do jeito que ele sabe e quer ficar. Ela pensa que o natural da mulher é querer controlar a situação.
Paola sempre levou os filhos aos locais de gravação, com alguém que pudesse ficar nos horários em que ela estava trabalhando. Seu marido também sempre dividiu os cuidados com os filhos. Ela pensa que as crianças devem entrar na vida dos pais e não estes mudarem sua vida por causa delas. E isso tem dado certo!
Assista à entrevista completa em https://youtu.be/Mr1vTaXinRI
O programa “Música Inclusiva”, da Rádio Diversa, foi realizado pelos alunos do curso de Jornalismo da ECA-USP Karina Merli, Pedro Ezequiel, Renan Sousa, Samantha Prado e Tainah Ramos. Tendo como tema a maneira como a mulher é retratada na música, entrevistou Eliana Monteiro da Silva, membra da rede Sonora – músicas e feminismos e Doutora em Música pela ECA.
O programa discute o olhar da sociedade para o papel da mulher no decorrer do século XX e como isso transparece em letras de músicas como “Dá Nela”, de Francisco Alves, entre outras. Graças às lutas empreendidas por mulheres e grupos feministas desde, principalmente, a década de 1960, esta realidade vem mudando e se reflete em músicas como “Laura”, de Marina Melo.
Confira!