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Encontra 2016

Espaço Aberto (bloco 1) – Camila Durães Zerbinatti

Investigações iniciais sobre a condição de sujeito nômade em/de Kaija Saariaho: abordagem de questões de gênero feitas por uma compositora mulher em declarações públicas.

Camila Durães Zerbinatti

 

Neste artigo apresento reflexões analíticas de investigações iniciais sobre declarações públicas da compositora finlandesa Kaija Saariaho (1952-) nas quais questões de gênero são abordadas. Foram selecionados para análise preliminar trechos de entrevistas de mídia escrita/ impressa e declarações textuais de Saariaho que abordam situações e discussões de gênero na música. A análise segue o referencial teórico oferecido por MOISALA (2000, 2009, 2011) e BRAIDOTTI (1994, 2011). O objetivo da pesquisa é investigar a condição de sujeito nômade em/de Saariaho.

Saariaho têm se posicionado gradativamente mais direta e enfaticamente com relação ao gênero e às mulheres na música, o que acontece durante e logo após um período de notável e crescente reconhecimento e visibilidade de sua obra (os primeiros quinze anos do século XXI). Segundo Moisala, a compositora encontrou uma “outra” posição-de-sujeito-de-gênero (gender subject position) em sua história de negociação de gênero no mundo da música, predominante dominado e integrado por homens, que “é a posição do sujeito nômade. A posição do sujeito nômade não permanece dentro do sistema patriarcal da música clássica mas, ao contrário, o transforma.” (MOISALA, 2000, p. 185) 1 O conceito de sujeito nômade, cujas raízes estão em Deleuze e Guattarri, é aprofundado e (re)elaborado por Rosi Braidotti:

“O nômade expressa minhas próprias figurações de uma compreensão situada, culturalmente diferenciada do sujeito. (…) Enquanto eixos de diferenciação como classe, raça, etnia, gênero, idade, e outros interagem uns com os outros na constituição da subjetividade, a noção de nomadismo se refere à ocorrência simultânea de muitos deles de uma vez. Subjetividade nômade tem a ver com a simultaneidade de identidades complexas e multi-dimensionadas. Falar como uma feminista acarreta o reconhecimento da prioridade do gênero, em estruturar essas relações complexas.” (BRAIDOTTI, 2002: 10)

Pretendo conversar com as reflexões apresentadas a partir da minha voz mas também a partir de algumas improvisações-gambiarras ao violoncelo.

REFERÊNCIAS

  • BRAIDOTTI, Rosi. Diferença, Diversidade e Subjetividade Nômade, Tradução de Roberta Barbosa. labrys, estudos feministas número 1-2, julho/ dezembro 2002. http://www.historiacultural.mpbnet.com.br/feminismo/Diferenca_Diversidade_e_Subjetividade_Nomade.pdf Acessado em 27/10/2016.
  • MOISALA, Pirkko. Gender Negotiation of the Composer Kaija Saariaho in Finland: The Woman Composer as Nomadic Subject. In: MOISALA, Pirkko; DIAMOND, Beverley. (Editors). Music and Gender. Urbana and Chicago: University of Illinois Press, 2000. p. 166- 188.

 

Camila Durães Zerbinatti

foto-camila-dura%cc%83es-zerbinattiNasci em São Paulo, onde comecei a amar a música ouvindo meu pai cantar, minha mãe cantarolar e adorando escutar um par de fitas cassetes e LPs vezes sem fim. Comecei a estudar música com Fátima Viegas e continuei meus estudos de piano com o mestre Armando Fava Filho. Me apaixonei pelo violoncelo quando o vi na apresentação de uma orquestra jovem no salão da Igreja São Francisco, Jaguaré. Não sei o porquê nem como, mas senti que queria muito tocar aquele instrumento, e aconteceu! Fiz licenciatura em música na USP, pós-graduações em música contemporânea e curso técnico em violoncelo na UFRN, me tornei mestra em musicologia-etno-musicologia na UDESC, continuando as pesquisas sobre música contemporânea e performance para violoncelo. Neste caminho descobri as mulheres compositoras e me descobri mulher e feminista. Sou educadora há 14 anos, trabalhando na educação infantil e instrumental, de crianças, jovens, adolescentes e adultos. Sinto que as coisas acontecem todas juntas: tocar, aprender, criar, educar, descobrir, sentir, pensar, pesquisar, vir a ser quem sou – aqui e agora, num fluxo contínuo.