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Ata de ESCUTA: “Compositoras Latino-americanas” um recital-conversa com Eliana Monteiro da Silva

O recital-conversa “Compositoras Latino-americanas” inaugurou, no Auditório Olivier Toni da ECA-USP, uma série há muito idealizada pela Rede Sonora, que enfoca a performance ao vivo seguida de entrevista – ou de conversa. Esta apresentação da pianista Eliana Monteiro da Silva trouxe um pouco da sua antologia “Compositoras Latino-americanas: vida – obra – análise de peças para piano”, pesquisa de Pós-Doc realizada no Depto. de Música da ECA entre 2016 e 2018, sob supervisão do Prof Amilcar Zani e a colaboração da professora de piano Heloisa Zani.

Para esta antologia Eliana analisou 20 peças de autoras de 9 países da América Latina, compostas entre o fim do séc. XIX e o início do XXI, com intuito foi mostrar a participação das mulheres na criação da música erudita deste continente. O recorte de tempo se deveu ao fato de ser neste período que a música latino-americana adquiriu características próprias. O formato das pesquisas e a escolha das obras priorizou a maior variedade possível de estilos, linguagens, técnicas e períodos de composição, a fim de dar a conhecer um leque de possibilidades explorado pelas compositoras da América Latina.

Eliana falou um pouco de cada peça que tocou e, ao final, alunxs, professorxs e público em geral fizeram perguntas, comentários, o que quiseram. Foi muito rico aproveitar a oportunidade de que uma das compositoras do programa estava presente, a Valéria Bonafé, que pôde esclarecer algumas dúvidas a respeito de suas peças e da inserção das mesmas no cenário musical.

O evento contou com o apoio e participação dxs professorxs da disciplina “Laboratório de Interpretação e Criação Musical Contemporânea”, em especial do Prof. Silvio Ferraz, e com o tradicional apoio do NuSom. As peças interpretadas foram:

 

  1. Preludio n. 1, da mexicana Gabriela Ortiz, composto por volta de 2005. Peça que integra o ciclo Estudios entre Preludios da compositora, em que ela homenageia mestres da música erudita ocidental como Ligetti, Cage, entre outros. Este preludio tem influência das sonoridades impressionistas de Debussy, com seus modos simétricos, mas também, segundo Gabriela em entrevista a Eliana, da sensualidade harmônica de Toru Takemitsu. A compositora é também autora de várias óperas com temáticas feministas.
  2. Sonatina, da brasileira Eunice Katunda, composta em 1946 e revisada em 1965. Obra em 3 movimentos, todos baseados em 2 motivos apresentados na Introdução do primeiro, apresentado no recital. Eunice, que viveu entre 1915 e 1990 – portanto, quase todo o século -, compôs em quase todos os estilos. Era uma mulher radical, que entrava de cabeça em tudo o que se propunha. Assim foi no Grupo Música Viva, do qual fez parte, e depois no movimento que resgatou o Nacionalismo na década de 1950, liderado por Camargo Guarnieri. Esta Sonatina marca o ano em que ela ingressou no Música Viva, embora não seja dodecafônica, marca registrada do grupo de Koellreutter. É uma obra atonal livre.
  3. Graciela Paraskevaídis nasceu na Argentina em 1940 e mudou-se para o Uruguai em 1975. Lá faleceu de câncer em 2017, deixando uma extensa obra musical e literária acerca da música latino-americana. A peça …a hombros del ruiseñor, interpretada por Eliana, foi criada em 1997, no período de redemocratização da maioria dos países do continente. É dedicada ao guerrilheiro Che Guevara e seu título faz menção ao verso “Rouxinóis de novo” (ruiseñores de nuevo), de Juan Gelman, poeta que teve os filhos e a esposa sequestrados durante a ditadura militar. As letras C H e E, de Che, estão no motivo principal de … a hombros, formado pelas notas Do (C), Si natural (H) e Mi (E). Os silêncios e as frases que terminam em suspensão aludem à falta de respostas para a aflição dos inúmeros pais e mães cujos filhos desapareceram neste período trágico da nossa história. Graciela foi também responsável pelos sites latinoamerica-musica.net e www.gp-magma.net. Integrou a equipe organizadora dos Cursos Latinoamericanos de Música Contemporánea, do Núcleo Música Nueva de Montevideo e da Sociedade Uruguaya de Música Contemporánea.
  4. O Estudo Brasileiro n 1 foi composto pela brasileira Cacilda Borges Barbosa em 1950. Faz parte de uma série de estudos com finalidade didática que a autora criou para trabalhar dificuldades diversas. Este, especialmente, enfoca a polifonia, os grupos alterados e a independência entre as linhas melódicas. Cacilda foi da equipe de trabalho de Villa-Lobos e posteriormente dirigiu o Instituto Villa-Lobos no Rio. Foi também uma das primeiras a trabalhar com fitas magnéticas e música eletrônica no Brasil.
  5. O ciclo Do livro dos seres imaginários, da brasileira Valeria Bonafe, foi inspirado na publicação homônima do escritor argentino Jorge Luis Borges. Composto em 2010, traz nas 4 peças os personagens Kami, ser sobrenatural que jaz sob a terra; Odradék, ser formado por pedaços de linha e que não se deixa capturar; Shang Yang, pássaro da chuva que fica numa pata só; e Haokah, Deus do trovão. O ciclo foi escrito para piano preparado, sendo só a peça Shang Yang escrita sem utilizar os sons modificados pelo preparo. Esta peça faz uso do pedal tonal. Valéria é membra da rede Sonora e professora da EMESP.

Equipe organizadora do ESCUTA:

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Escuta: “Compositoras Latino-americanas” – um recital-conversa com Eliana Monteiro da Silva

Eliana Monteiro da Silva é pianista, professora e pesquisadora. Bacharel em Piano pela Faculdade de Música Carlos Gomes, fez Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Música na Escola de Comunicações e Artes da USP, sob orientação do Prof. Amilcar Zani. Suas pesquisas enfocam a atuação da mulher na produção pianística ocidental, sendo autora do livro “Clara Schumann: compositora x mulher de compositor”, da tese “Beatriz Balzi e o piano da América Latina” (FAPESP), e da antologia “Compositoras latino-americanas: vida – obra – análise de peças para piano”, a ser publicada em e-book este ano pela Editora Ficções. Atua como professora particular de piano, ministrou os cursos “Sons e Imagens da América Latina I e II” no Instituto Cervantes com o pintor Juan José Balzi, participou como organizadora e palestrante do projeto “MusiMAC: arte contemporânea para ver e ouvir” em parceria com Ana Gonçalves Magalhães e Amilcar Zani e integra o quadro de docentes da Pós-Graduação da ECA com a disciplina “Música Erudita do século XX na América Latina: aspectos históricos e analíticos”, juntamente com Amilcar Zani e Heloísa Fortes Zani. Em 2017 foi indicada pela FUNARTE para representar o Brasil no III Coloquio de Investigación Musical Ibermúsicas no Chile, com a temática “Música y mujer en Iberoamérica: haciendo música desde la condición de género”. Sua militância artística pela maior visibilidade da mulher na música inclui a participação no Duo Ouvir Estrelas (www.duoouvirestrelas.com), com a cantora Clarissa Cabral, na rede Sonora – músicas e feminismos (www.sonora.me) e no grupo Polymnia (www.polymnia.webnode.com).

 

PROGRAMA
1. Gabriela Ortiz (Mexico) – Preludio I, do ciclo Estudios entre Preludios
2. Eunice Katunda (Brasil) – Sonatina (1º movimento)
3. Graciela Paraskevaídis (Argentina/Uruguai) – …a hombros del ruiseñor
4. Cacilda Borges Barbosa (Brasil) – Estudo Brasileiro n 1
5. Valéria Bonafé (Brasil) – Do livro dos seres imaginários: Kami, Odradék, Shang Yang e Haokah. 
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Visões

Ata da reunião de 17/09/2018 – Visões com Carô Murgel

“Cartografias da canção feminina: compositoras brasileiras no século XX”

Carô Murgel é cantora, historiadora, Doutora em História Cultural e Pesquisadora Colaboradora do Depto. História IFCH/Unicamp. Sua pesquisa de Doutorado foi orientada pela Prof.a Margareth Rago e enfocou o gênero na canção brasileira.

Carô começou sua fala explicando a diferença entre gênero e sexo: o 1º é uma construção social, um discurso sobre as mulheres, e isso se nota muito claramente na canção popular. Outra construção é este abismo entre a música popular e a erudita, cuja linha, na canção principalmente, é bem tênue. A pesquisadora conta que as compositoras lidam mais livremente entre as duas vertentes. Justamente porque nada disso é natural, é tudo artificial. As mulheres e seus instintos, tudo é exacerbado, além do que é, de fato, inventado. Até no movimento operário a maior parte era composta por mulheres. Mas nos referimos ao movimento operário, no masculino.

Mulheres públicas não eram vistas como mulheres de bem, eram tidas como prostitutas, enquanto homens públicos podiam e podem ser deputados, ministros, diplomatas e o que mais quiserem.

O apagamento das compositoras

A ciranda nasce com as mulheres, que esperavam seus maridos na praia com as crianças. O samba de roda também. A umbigada também era uma dança majoritariamente feminina: uma dançava sozinha até dar uma umbigada em outra mulher da roda, que entrava e dançava com ela. Somente quando elas se cansavam os homens entravam.

Nos séculos XVIII e XIX as mulheres criavam coletivamente os cantos de trabalho. O samba, por exemplo, chega ao Rio de Janeiro pela voz das negras que vinham do Recôncavo Baiano e de outras localidades. Tia Ciata é deste tempo, e foi uma das tantas mulheres esquecidas/apagadas no registro histórico musical. Carô encontrou pistas desta e de outras compositoras em artigos de jornal e até em partituras de acervos dentro e fora do Brasil.

O 1º rock brasileiro foi composto em 1957 por Carolina Cardoso de Menezes e se chamou “Brasil Rock”. Outro exemplo de apagamento é a Lina Pesce, autora de “Bem-te-vi atrevido”, de 1942. Esta peça foi citada por Hermeto Paschoal como sendo da autoria de Pixinguinha!

Rude franqueza

Alda Garrido, compositora nascida na virada do século, canta uma obra em resposta ao que se falava das mulheres. De autoria desconhecida, “Rude franqueza” fala que o homem, para ser bom, deveria nascer morto. Esta letra chocou a sociedade, embora existam inúmeras composições em que homens expressam o desejo de matar a mulher.

O apagamento das mulheres como autoras fica nítido no caso de Carmen Miranda, parceira de Pixinguinha na canção que fala “Comigo não, violão”, cuja autoria é questionada por seu biógrafo Ruy Castro. Carô conta que não há um único documento que negue a criação de Carmen Miranda, então por que a dúvida?

Ambiente familiar

Os pais de Carô a criaram ouvindo música. Ela observa que isso é raro atualmente, filhos e filhas não ouvem música com a família. Cada um tem seu fone, sua fonte, seu aparelho. Esta também é uma razão para seu conhecimento de obras da 1ª metade do século XX. “Melodia Sentimental”, de Dora Vasconcelos e Heitor Villa-Lobos, era uma das músicas preferidas de seu pai. Dora fez várias letras para canções de Villa.

Inezita Barroso, intérprete muito conhecida, lançou um disco em 1958 somente com obras de mulheres. Ela gravou, por exemplo, “Maria Macambira”, de Babi de Oliveira e Orádia de Oliveira. A música conta a história de uma lavadeira que morre no mar, “lavando as roupas de Yemanjá”.

Almira Castilho, parceira de Jackson do Pandeiro entre 1955 e 1967, teve a autoria de “Chiclete com Banana” questionada pelos historiadores. Mas o fato é que, após a dupla se separar, Jackson compôs um total de 4 obras.

Aylce Chaves, parceira de Paulo Marques na canção “Lama”, reclama na mesma o peso de ser difamada, de ter seu nome “na lama”. Ela é uma das tantas compositoras que não tem registro biográfico disponível.

Assinando em segredo

Muitas compositoras colocavam pseudônimos masculinos para vender suas peças. Isso dificulta mais ainda encontrar suas trajetórias. Carô conta que também há muitas mulheres cuja obra ficou na gaveta. Sua própria avó é uma delas. A pesquisadora fala que compilou mais de 7.000 compositoras em seu trabalho, até que decidiu encerrar temporariamente a investigação a fim de divulgar os resultados. Ela espera que mais pessoas deem continuidade e ampliem sua pesquisa, para o que disponibiliza informação online e ainda se oferece para enviar material impresso a interessadxs.

1 por cento

No encontro de hoje, Carô Murgel mostrou e dissertou sobre, em média, 70 compositoras. Isso corresponde a 1% do total de mulheres incríveis que ela encontrou pelo caminho. Ela conta que, atualmente, há uma profusão de compositoras advindas das igrejas. Muitas delas, embora não se possa generalizar, utilizam a música para incentivar suas pares a se submeterem ao patriarcado em pleno século XXI.

Acervos

Os acervos estão sob risco, por falta de recursos e descaso administrativo. Carô recomenda que interessadxs procurem editoras responsáveis pela publicação dos discos e livros para saber sobre as compositoras. Outra fonte é o ECAD, de direitos autorais. Ela teme que os arquivos existentes possam se perder como museus que sofreram avarias por falta de manutenção.

Famílias e direitos autorais

Muitas famílias detêm direitos de compositoras e dificultam a divulgação de suas obras. Algumas vezes o dinheiro serve de desculpa para que não se divulgue a artista, sua vida, suas escolhas. As compositoras vivas, ao contrario, em geral são generosas e gostam de saber do interesse alheio por sua produção criativa. Ainda assim, Carô aponta a necessidade das mulheres de pesquisar as compositoras. Ela diz que nós temos que fazer isso, ninguém o fará no lugar das mulheres.

Mulheres interrompidas

As mulheres já iniciam suas carreiras com sobrecarga. Elas têm, tradicionalmente, que interromper sua pesquisa, seu trabalho ou seu descanso para atender à família, à comunidade, cuidar. De acordo com Carô Murgel isto as faz cultivar uma linguagem, por vezes, fragmentada. Há um interesse político em manter as mulheres em posição de submissão, para conservar os privilégios masculinos.

A revolução virá pelas mulheres

Apesar de estarmos passando por tempos sombrios na cultura e no país, a pesquisadora é otimista em relação à atuação das mulheres e seu potencial de mudança. Ela entende que tudo é política, o posicionamento das mulheres e suas conquistas não podem ser apagados.

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Visões: “Cartografias da canção feminina” – com Carô Murgel

Ana Carolina Arruda de Toledo Murgel (Carô Murgel) é  Doutora em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas, onde fez toda sua formação, incluindo o pós-doutorado, no qual pesquisou as compositoras brasileiras que atuaram durante o século XX.
Foi violonista e cantora, dedicando-se à pesquisa e divulgação da Música Popular Brasileira. É idealizadora e mantenedora do site MPBNet. Atuou como Supervisora no curso de História da Rede São Paulo de Formação Docente (REDEFOR), parceria da Unicamp, USP e UNESP com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Foi coordenadora do GT de Estudos de Gênero da ANPUH-SP na gestão 2012-2014 e é colaboradora desde 2012 na elaboração, correção e apresentação da Olimpíada Nacional de História do Brasil (CNPq/IFCH-Unicamp). É Pesquisadora Colaboradora junto ao Departamento de História do IFCH/Unicamp.
Atua na área de História Cultural, com ênfase em gênero, feminismo, subjetividades, canção popular brasileira e compositoras brasileiras.
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Operacional

Ata da reunião de 10/09/2018 – Operacional

A reunião de hoje teve uma convidada, a cantora e pesquisadora Ligiana Costa, que veio para falar de projetos junto à OSUSP, na esteira do que foi falado no último encontro sobre o novo regente Fabio Cury e suas ideias para a orquestra. Como o Fabio havia se aproximado da Lilian para inserir a temática de gênero na programação, as duas – Lilian e Ligiana – pensaram em fazer uma proposta com a Sonora.

Entre os desejos para esta proposta, um seria o de mexer com a própria estrutura da orquestra valorizando a participação das mulheres do grupo. Outro seria inserir sons eletrônicos, sons do universo pop, sonoridades contemporâneas. Além disso, estender o projeto de recital para oficinas paralelas ligadas às mulheres.

A chamada seria para compositoras, uma arranjadora, iluminação, vídeo, concepção e produção do projeto. A Sonora poderia indicar mulheres para estes lugares.

Ficou combinado que faremos um novo encontro para discutir esta proposta, com um esqueleto já delineado. Este esqueleto será formulado a partir de um esboço formulado pela Ligiana e enviado ao email sonoramulheres para ver quem quer participar e como.

Depois disso, a pauta foi a seguinte:

Calendário

  • Carô Murgel – Visões dia 17/9. Como ela não enviou a mini bio e a foto pedidas, Eliana ficou de mandar para Marina até quarta-feira. Caso contrário, vamos usar foto e bio disponíveis na internet. O nome do Visões deve ser “Cartografias da canção feminina”, título da tese dela. Marina fará o flyer de divulgação e Eliana postará no site e no facebook.
  • Eliana – Recital-conversa “Compositoras Latino-americanas” dia 24/9. O nome da serie será “Escuta:”. Marina ficou de fazer flyer de divulgação. Valéria e Tidi se comprometeram a montar os equipamentos de gravação para registrar o evento. Valéria ficou de perguntar ao Silvio sobre o preparo do piano.
  • Bella foi convidada a fazer um projeto para a serie “Experimenta”. Ela ficou de bolar uma oficina e enviar a proposta por whats.

Informes

  • Natalia Fragoso – Valeria trouxe o tema para a pauta. Natalia é compositora, mora no Canadá e estará no Brasil em novembro. Ela participará de um evento da serie Vozes, para o que precisa de uma carta-convite. As datas possíveis são 5/11 ou 12/11.

Radio

  • Flora H. trouxe o que ela e a Tidi prepararam para o programa. Uma dúvida que se aventou é se as peças principais podem ou não ser cortadas para dar lugar a trechos das entrevistas ou não. Tidi e Flora acharam que sem interromper as peças ficam blocos muito longos de uma e de outra compositora. Valéria disse que não se importa e Mariana disse que a Alma também já havia dito que não se importava.
  • Foi colocada uma primeira montagem do programa para ouvirmos na reunião.

Inserção de nomes no site

  • O assunto foi debatido novamente e deve ser retomado em reuniões futuras.