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Ata da reunião de 13/08/2018 – Vozes com Tide Borges

Esta é a 13ª edição da Série Vozes. É também a data em que a compositora brasileira Vania Dantas Leite faria 73 anos. Vania faleceu dia 11/8/2018 e em sua homenagem a Sonora fez uma curta apresentação de sua biografia, seguida da audição de sua peça Di-Stances, composta em 1982.

Conversando com Tide Borges

Tide graduou-se em Comunicação Social, com Habilitação em Cinema, na ECA-USP, em 1984. Foi uma das pioneiras a trabalhar com som direto no Brasil. Desde 82 trabalha com cinema. É Diretora de Som, entre outros, do som do filme “A hora da Estrela”, de Suzana Amaral, e “Mulheres Olímpicas”, de Laís Bodanski.

Tide conta que os primeiros professores que ensinavam a trabalhar com eletrônica na ECA abordavam, principalmente, a física dos sons, suas propriedades. A investigação artística nesta área se deu, para ela, um pouco empiricamente.

Ela conta que no curso de cinema, a parte do “som” era a que menos atraía alunos e alunas. Ela acabava fazendo as trilhas e a produção sonora de todos os filmes da escola.

Usava um gravador portátil, o Naga 3, que havia pertencido à equipe de Thomas Farka, fotógrafo e cineasta conhecido por seus documentários.

Tide voltou à USP para fazer o Mestrado em Ciência da Comunicação. Sua pesquisa, intitulada “A introdução do som direto no cinema documentário brasileiro na década de 1960”, enfocou a ligação do gravador com a possibilidade de se colocar a voz das pessoas nos documentários. Um dos filmes que ela analisou foi “Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor, que dava voz às mulheres para saber o que estas achavam da função da mulher na sociedade. Este filme chamou sua atenção porque era raro este interesse pela opinião das mulheres acerca da vida que levavam.

Técnica e criatividade

Tide se especializou mais na captação de sons durante a filmagem e, atualmente, discute o fazer criativo nesta profissão. Critica a visão de que este é um trabalho puramente técnico. Tem que haver uma escuta sensível e criativa na hora de fazer as escolhas do que e como gravar.

Os custos dos equipamentos são outra dificuldade, muitos são importados, tudo é caro. Tide conta que iniciou a parceria com Lia Camargo também para que juntas pudessem comprar equipamentos melhores.

Sua parceria com Lia Camargo vem de décadas. Não há hierarquia nesta relação, o que difere das relações habituais do mundo do cinema. Elas dividem os microfones, até porque dividir a monitoração auxilia a vencer a rapidez das tomadas nas filmagens. Tudo ocorre muito depressa, o ensaio é gravado e pode servir para material definitivo.

Como professora, conta da dificuldade de sistematizar um conhecimento adquirido através da experiência para colocar em suas aulas. O livro “Como fazer um filme”, de Carlos Abbate, foi uma publicação muito útil e cuja tradução foi uma conquista de Tide, entre outros (as). Desde 2010 leciona Direção de Som no curso de cinema da FAAP.

A escolha de microfones, do material ou da forma de trabalhar nem sempre é o principal num filme: o relacionamento entre as pessoas envolvidas numa filmagem é muito importante para a boa realização. Pode haver muita disputa de egos, pois o que cada profissional espera da obra é único e individual. Nem todos (as) entendem como funciona a escuta através do microfone, para o que Tide convida diretores (as) e atores (as) para ouvir com um fone sensível. Com isto eles (as) percebem como é difícil conseguir filtrar falas e sons específicos em meio à poluição sonora comum das cidades.

Tide conta que não costuma ouvir música em seus trajetos, prefere prestar atenção nos sons que a rodeiam. Está fazendo, com alunos e alunas da FAAP, um mapa sonoro da faculdade. Este trabalho de gravação da paisagem sonora do local convida os (as) jovens a conhecer e sentir o espaço que frequentam a partir dos sons.

Sobre a atuação de mulheres na área de sons diretos

Tide conta que já foi mais difícil atuar na direção de som por ser mulher. Entre outras questões, os gravadores eram mais pesados e alguns diretores achavam que mulheres não dariam conta de carregá-los.

A questão familiar é difícil também, pela necessidade de viajar, estar em campo. Tide conta que trabalhou até os 9 meses de sua gravidez, mas depois se dedicou à propaganda por um tempo, para estar mais em casa.

Na docência ela conta que foi privilegiada em certo aspecto pela carência de profissionais da área que tivessem formação acadêmica. O fato de estar na ativa, fazendo filmes, também é valorizado pela faculdade.

Em relação aos salários também, ela não tem reclamações. Mas o assédio existe, apesar de estar diminuindo.

Música x som direto

Tide conta que a relação entre trilha sonora e som direto tem se tornado mais frequente. Eram universos muito distantes, já que a trilha quase sempre chega no final das filmagens. Ela tem trabalhado mais na finalização dos filmes, o que possibilita que faça a interação das composições com o som direto. Sente que quanto mais houver esta interação, melhor será o resultado final.