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Ata da reunião de 04/12/2017 – Vozes com Flora Holderbaum

O nosso encontro hoje, na última edição da Série Vozes, foi com a violinista, artista sonora e pesquisadora Flora Holderbaum. Foi um encontro especial, pois, assim como em algumas outras edições, Flora é integrante da rede Sonora.

A artista contou-nos sobre sua trajetória. Ela escreve desde muito cedo, e abraçou a música – começando pelo violino – um pouco depois. Fez Graduação e TCC em Artes Visuais, área em que conheceu melhor o que seria sua grande via de expressão, a Arte Sonora e a Poesia Sonora. Fez mais uma Graduação, em Violino, e uniu as duas vias de linguagem, sonora e visual.

O estudo do violino clássico lhe deu ferramentas para transitar pela música experimental. Ela também estudou técnicas de mixagem, eletrônica e gravação, para poder produzir suas próprias composições de música concreta e eletroacústica. Uma pessoa que a encorajou nesta área foi a compositora argentina Alma Laprida.

Assim como Alma, Flora diz que não se reconhece como uma compositora, intérprete ou criadora, pois não vê uma única área que a represente. Circula entre várias formas de atuar, unindo diversas possibilidades do fazer. “Poema, verbo instrumental” foi das primeiras obras em que inseriu uma gestualidade mais particular, como se uma coreografia fizesse parte da obra. Ela também começou a trabalhar com ruídos, sons vocais não convencionais e outras técnicas estendidas, realizando obras que podem ser ouvidas em seu soundcloud, em https://soundcloud.com/flora-holderbaum.

Das pedras no caminho

Flora acha que, no Brasil, o caminho não é tão fácil para artistas que se interessem pela área em que atua. Os equipamentos são caros, a informação de como realizar determinados procedimentos não é de simples acesso, os cursos são dispendiosos e têm-se que descobrir os processos sozinha (o). É assim que ela percorre seus caminhos, testando, experimentando, retomando materiais que usou em trabalhos anteriores, revisitando trechos, inventando outras peças, criando coisas novas.

A microvocalidade é uma das façanhas que a atrai, como pode ser conferido em “5 peças para vocalidades mínimas ou microvocalidades”, também disponível no seu soundcloud. A artista explora fenômenos como granulação, pequenos fragmentos de voz e outros micro processos. A oralidade e a escritura são vistas por ela como contínuas, não como opostas. É uma performer que compõe e usa tudo o que lhe parece moldável. Neste sentido a peça “Máquina de lavoz” é um exemplo da aplicação de vários softwares, ruídos e procedimentos, a partir do som de uma máquina de lavar em movimento.

Compositora, intérprete e…

Flora mescla vídeos e gravações com performances ao vivo. Trabalha bastante em parceria com outras (os) artistas.

Tem se interessado particularmente pelo processo terapêutico vivido pelas pessoas que participam das produções vocais e/ou instrumentais. Em “Máquina de Lavoz” ela trabalha os harmônicos gerados pela máquina de lavar, sobrepondo também sua própria voz no processo. O resultado parece dar uma sensação de paz a quem ouve, fenômeno que ela quer estudar mais a fundo futuramente.

Influências

O contato com integrantes do NuSom lhe abriu novas possibilidades. Conhecer a Lilian Campesato, o Fernando Iazzetta e a Valéria Bonafé, entre outras (os), motivou sua vinda para São Paulo e o interesse pela pesquisa no campo da arte sonora e da improvisação. Luís Vanzato também é uma referência para ela, juntos trabalharam em “Synchronia”, para voz, violino e eletrônica. Ela cita também Silvio Ferraz e suas ideias sobre sibilações, além de outros procedimentos.

Leila Monségur também é uma parceria cara a Flora, assim como Julia Teles e outras pessoas do NME (Núcleo de Música Eletroacústica). Há um tempo Flora participa da Revista Linda NME e, em algum ponto, encontrou a Leila e juntas fizeram o projeto que foi selecionado pelo edital de música e audiovisual para mulheres criadoras do 4º Festival Música Estranha, em 2016, idealizado em parceria com a rede Sonora. O tape chama-se “Miss Sound System” e pode ser visto em https://www.youtube.com/watch?v=Zx41NWguDjs.

Daniel Quaranta lhe deu várias dicas de como tirar o máximo de determinadas ferramentas. Mas, ao final, a escuta é sua melhor guia, a necessidade poética lhe direciona para os recursos possíveis.

Excessos e mínimos

Flora gosta de sair e voltar para o mínimo, que considera o duo violino e voz. Isso é recorrente em alguns de seus trabalhos, que partem de um espectro mais reduzido, alcançam uma vastidão que caracteriza como excesso e retornam ao mínimo essencial do início.

A artista mostrou sua produção foi em torno da temática dos chás, para o NME Chá.  A peça Chea-chá de ‘Passi.flora’ está no seu repertório do soundcloud.

Oficinas

Atua em oficinas de arte sonora e composição, em São Paulo e em outras cidades. Nelas a autora fala de poetas sonoras (os) e de vocalidades, questionando o lugar da voz e dos sons – do canto ao grito, o choro, etc.

Flora mostra trabalhos seus e estimula as e os alunos a trazerem materiais próprios para serem manipulados na oficina. Ela disse que surgem coisas maravilhosas, resultantes da teoria e da prática com palavras, gestos e sons. Ela pensa nos conceitos de Fucault sobre a possibilidade de emergência de vozes, quais vozes são permitidas, quais foram cerceadas, o que é possível fazer com e a partir delas.

Criações conjuntas

A improvisação [Re]Invenções, feita com Mariana Carvalho, Inês Terra, Nathalia Francischini e o NME, fez parte de um projeto do Proac. Flora conta que cada integrante veio com seu próprio repertório musical, corporal e gestual, combinando estéticas diversas. Ela gosta deste tipo de interação e composição conjunta.

Em Recife descobriu outros trabalhos acerca da cartografia do corpo, similares ao que ela pesquisa. Ela achou interessante como vários autores pensaram a atuação do corpo nos processos criativos, temáticas com as quais ela também se envolve.

Próximos passos

Flora pensa agora em trabalhar mais acústicos, com voz e violino, ou outras possibilidades. Também quer se dedicar mais à escrita para poder compartilhar suas criações com outras (os) intérpretes. Ela se lembra de uma peça que fez nesta linha, com a Marcela Lucatelli no Estudiofitacrepe, a qual curtiu bastante. Este trabalho surgiu de uma residência artística.